Uma Lamborghini argentina?

Depois da história da Matra e da Lotus brasileiras, dessa vez vamos acompanhar a história da Lamborghini argentina. Antes de ser comprada pelo Grupo Volkswagen em 1998, a montadora italiana passou por diversas dificuldades financeiras, e pelas mãos de diversos controladores. Após um período como parte da Chrysler Corporation entre 1987 e 1994, a empresa foi vendida para um grupo de investidores malaios e indonésios.

Foi nessa época de transição que a empresa Megatech, então controladora da Lamborghini fez um contrato de distribuição e licenciamento de produtos com o empresário mexicano Jorge Antonio Fernandez Garcia. Esse acordo, com duração de “apenas” 99 anos, deu origem a Automóviles Lamborghini Latinoamérica S.A. de C.V., que além dos direitos de venda e distribuição dos automóveis da marca na América Latina, também obteve o direito de produzir e vender automóveis no mundo todo carregando a marca do touro italiano.

Pelo contrato ter sido fechado antes da compra da Lamborghini pela Volkswagen, a Lamborghini Latinoamérica só teve acesso a plataforma do Lamborghini Diablo, sobre a qual produziu algumas derivações de design um tanto quanto curioso, as quais iremos conhecer na postagem de hoje.

Lamborghini Diablo SV. Fonte: Wikipedia [1].

Lamborghini Eros/Coatl

Pelo contrato firmado entre o empresário e a Lamborghini, poderiam ser construídos carros em caráter de série especial, além da possibilidade de realizar um campeonato de GT tanto em nível local quanto mundial.

Lamborghini Coatl em um salão do automóvel junto a um Countach e um Diablo. Fonte: LamboCARS [2].

O primeiro modelo apresentado ao público foi chamado Eros (nome do deus grego do amor), derivado do Diablo e que precisou de quatro anos de desenvolvimento até ser apresentado em 2000 (com direito até a vídeo de lançamento).

O motor teve sua cilindrada aumentada para 6,8 litros, com uma potência de 685 cv, suficientes, segundo a montadora, para acelerar de 0-100 km/h em 3,54 segundos e atingir uma velocidade máxima de 385 km/h. O chassi também foi modificado para lidar com a maior potência, sendo reforçado com o uso de aço cromo-molibdênio, cujo projeto ficou sob responsabilidade da McLaren.

O motor era baseado no original que equipada o Diablo, e sua preparação foi feita bem ao estilo tunning do início dos anos 2000. Fonte: LamboCARS [2].

Se por um lado a mecânica teve uma base sólida do Lamborghini Diablo, no design as coisas foram um pouco diferentes. A carroceria de fibra de carbono tem uma aparência reminiscente da Ferrari F50 na dianteira (veja na imagem abaixo), com faróis cobertos e extratores de ar, porém com um para-choques de design mais intrincado que o da macchina da Ferrari.

Nas laterais predominam as grandes entradas de ar com três grandes “guelras” e as rodas de 17” oriundas do Diablo SE30, enquanto sobre o cockpit foi posicionada uma entrada de ar, similar a do Diablo GT, e na traseira vem a parte mais radical e original do desenho. Lembrando de certa forma algumas encarnações do Batmóvel, o extrator de ar traseiro é divido em três partes, numa solução de design no mínimo inusitada, além de lanternas traseiras com um estilo similar ao que poucos anos depois passou a ser tendência para algumas vertentes do tunning.

A fábrica foi estabelecida na Argentina, na região de Buenos Aires, e apenas três unidades foram construídas, uma a marrom que ilustra o post, cujo nome foi mudado para Coatl (palavra asteca para serpente) vendida em 2001 a um preço de US$ 675.000, outra azul de configuração similar vendida em 2003 por US$ 750.000. Dentro desse preço, além do carro estão incluídos detalhes de personalização como um volante construído a mão sob medida, opção de personalização total da cor do veículo, tanto da carroceria quanto do couro do interior, além das iniciais do comprador gravadas no volante e nos cabeçotes. Opcionalmente ainda poderiam ser incluídos itens como discos de freio maiores, cambio sequencial e um kit Twin-turbo no motor. O terceiro carro, de cor branca era uma versão atualizada, com design lateral mais limpo e sem o aerofólio traseiro e foi chamado Eros GT-1, sendo vendido em 2001 por US$ 255.000.

Lamborghini Eros GT-1. Fonte: Divulgação.

Lamborghini Alar Concept

Alguns anos depois da venda do último Coatl, finalmente a Lamborghini Latinoamérica apresentou um novo modelo em 2007, dessa vez chamado Lamborghini Alar 777. Baseado na mesma combinação de chassi/motor do Diablo, porém dessa vez com cilindrada aumentada para 7,7 litros e potência de 770 HP, que aliada a um peso de 1200 kg é suficiente, segundo estimativa do fabricante para chegar a uma velocidade máxima de 410 km/h, com 0-100 realizado em 3,6 segundos.

Brochura de divulgação do Lamborghini Alar. Fonte: Divulgação.

O design guarda alguma semelhanças com o Coatl, porém com uma filosofia bem mais limpa, sem os exageros visuais do irmão mais velho, mas ainda bem longe de ser unanimidade. Diversas renderizações e uma ficha técnica foram divulgadas, e fotos que circulam na Internet mostram que ao menos uma unidade foi construída. Noticias surgiram ao longo dos anos sobre o retorno da produção, primeiramente no Uruguai e posteriormente novamente na Argentina, porém até o momento não houve, de fato, um recomeço da produção de veículos Lamborghini Latinoamérica.

Jorge Antonio Garcia ao lado de um Lamborghini Diablo e do protótipo do Alar. Fonte: Divulgação.

Fontes:

Smeyers, Mark. Diablo Coatl Special. Disponível em: http://www.lambocars.com/diablo/diablo_coatl_special.html. Acessado em: 04/07/2016.

Lamborghini Latinoamérica. Disponível em: http://www.lamborghini-latinoamerica.com/. Acessado em: 04/07/2016.

Documento comprovando os direitos de distribuição e produção de Jorge Garcia. Disponível em: http://www.lamborghini-latinoamerica.com/htm2/frames_dl5.htm. Acessado em: 04/07/2016, via: http://web.archive.org/web/20131002083930/http://www.lamborghini-latinoamerica.com/htm2/frames_dl5.htm.

Imagens

 [1]: Retirado de: Lamborghini Diablo. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lamborghini_Diablo .Acessado em: 06/07/2016.

[2]: Retirado de:Smeyers, Mark. Diablo Coatl Special. Disponível em: http://www.lambocars.com/diablo/diablo_coatl_special.html.Acessado em: 06/07/2016.

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