Você já ouviu falar da montadora Matra? Provavelmente os pistonheads vão se lembrar da empresa francesa, que produziu belos carros esportivos e foi campeã de construtores da Fórmula 1 em 1969, além de ter vencido as 24 Horas de Le Mans por três vezes consecutivas.
O que poucos devem saber é que, aqui no Brasil, já tivemos a nossa própria Matra. Diferente da francesa, e sem nenhuma relação além do nome, a empresa brasileira foi fundada pelo produtor rural e empresário Nivaldo Rubens Trama e começou sua produção em 2001, com a Picape 2.5 TB-IC. Essa picape foi projetada visando um nicho que ficou carente com o fim da produção do Toyota Bandeirante, de veículos espartanos capazes de atender o uso nas condições mais severas.
Fruto de um investimento de cerca de US$1,5 milhão, que incluem uma linha de montagem estabelecida na cidade de Ibaiti, no norte pioneiro do Paraná, o modelo conta com muitos componentes encontrados em outros veículos, porém o chassi foi desenvolvido pela própria Matra, sobre o qual foi montada uma cabine inteiramente feita de fibra de vidro.
O visual é bem chamativo, se não curioso, principalmente pela exótica combinação da frente curta e acentuada com um cabine alta (2,24 metros). O painel de instrumentos tem moldura externa quadrada, e os mesmos se limitam ao velocímetro, marcadores de nível de combustível e de temperatura e hodômetro total.
A visibilidade é boa devido a elevada altura e a ampla área envidraçada e o acabamento, apesar de rústico apresenta bom nível de isolamento acústico, principalmente levando-se em conta que o motor invade parte da cabine, ficando quase entre os bancos. O acabamento, pelo contrário, é um ponto negativo, apresentando encaixes imperfeitos e rebarbas por todo o habitáculo, mas pelo menos a limpeza pode ser realizada facilmente devido a cabine ser feita de fibra de vidro. O motor é uma unidade International Maxion HS Turbo Diesel com intercooler, 2.5 de 115 cv a 3800rpm e torque de 29 mkgf a 1600 rpm e a tomada de ar situa-se em posição elevada em relação ao solo, além de contar com um sistema de filtragem de ar projetado especificamente para terrenos empoeirados, garantindo maior vida útil para o motor. A transmissão é uma Eaton FS2305 igual a utilizada nos Land Rover Defender nacionais, mas com montagem invertida, de forma que primeira, terceira e quinta marchas são engatadas com a alavanca posicionada para trás, e segunda, quarta e ré com a alavanca para frente. O modelo estava disponível em versões de cabine simples, estendida e dupla, chassi curto e longo e tração 4×2 ou 4×4.
O desempenho do veículo é de certa forma surpreendente, sendo possível manter uma velocidade de cruzeiro de 70 km/h com alguma força de sobra para ultrapassagens. Acima de 80 km/h, entretanto, o veículo torna-se instável e apesar da boa empunhadura do volante o banco não segura bem o corpo do motorista, exigindo um certo esforço para guiar o veículo. Incomoda também a proximidade entre os pedais devido ao ressalto que acomoda parte do motor na cabine, mas se for observado o uso a que o veículo se destina esses são fatores de menor importância.
Em 2002, o veículo sofreu uma revisão na cabine, além de pequenas alterações estéticas. Inicialmente estava disponível em versões de cabine simples e estendida com freios a tambor nas quatro rodas, sendo que a versão chassi curto já vinha com caçamba, enquanto a versão chassi longo poderia ser equipada opcionalmente com caçamba de alumínio, de madeira ou baú. A versão cabine dupla foi lançada na 10.ª Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow) em 2003, assim como a opção de freios a disco nas rodas dianteiras.
Após três anos foram produzidas 116 picapes, das quais 46 foram exportadas para a Argentina e o Uruguai, e em 2004, a empresa contava com 23 pontos de venda, distribuídos por oito estados e tinha planos para lançar um chassi para microônibus e um caminhão com capacidade para quatro toneladas em 2005, porém a empresa fechou as portas ainda em 2004, pois com planos de vender 500 unidades nos três primeiros anos o negocia havia se tornado inviável. Segundo o próprio Nivaldo, em entrevista ao jornal Gazeta do Povo: “Era um mercado segmentado demais. Não conseguimos vencer a concorrência das picapes tradicionais”. Após o encerramento da produção todo o maquinário foi vendido para um grupo amazonense e transferido para Manaus.
Fontes:
Matra lança linha 2002 do seu versátil picape. Disponível em: http://www.parana-online.com.br/editoria/policia/news/18072/. Acessado em: 16/09/2010.
Matra lança na Agrishow nova picape cabine dupla. Disponível em: http://www.parana-online.com.br/canal/automoveis/news/47132/?noticia=MATRA+LANCA+NA+AGRISHOW+NOVA+PICAPE+CABINE+DUPLA. Acessado em: 16/09/2010.
Matra, outro fabricante nacional. Disponível em: http://bestcars.uol.com.br/nasser/113n-2.htm. Acessado em: 16/09/2010.
Dutra, Roberto. Um esquisitão em via pública. Disponível em: http://www2.uol.com.br/tododia/ano2004/marco/070304/veiculos.htm. Acessado em: 16/09/2010.
Olegário Concessionário Matra veículos. Disponível em: http://www.olegario.com.br/matra.php. Acessado em: 16/09/2010.
Matra. Disponível em: http://www.geocities.ws/montadorasbrasileiras/matra/matra.htm. Acessado em 16/09/2010.
Durou três anos o sonho de montar picapes em Ibaiti. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/economia/durou-3-anos-o-sonho-de-montar-picapes-em-ibaiti-a78xt975xhfedp8lijjmysuha. Acessado em 03/07/2016.
Imagens:
[1]: Retirado de: Wikipedia.
[2]: Retirado de: Toyota Bandeirante …um bravo e velho guerreiro 4×4… Disponível em: http://mcastanho.com/jipesoujeeps/toyotabandeirante.html. Acessado em 03/07/2016.
[3]: Retirado de: Matra. Disponível em: http://www.geocities.ws/montadorasbrasileiras/matra/matra.htm. Acessado em 16/09/2010.
eu tenho a versão 2003 e estou com dificuldades de achar peças voces podem me ajudar?
Olá! Até onde eu sei diversas componentes são “peças de prateleira”, ou seja, componentes padrão dos fornecedores e que são aplicados em diversos veículos de várias montadoras. Quais são as peças que você está com dificuldade de encontrar?