Fundada em outubro de 1963 pelo empresário Nélson Fernandes, a IBAP tinha como meta produzir automóveis modernos de projeto 100% nacional. O plano previa três modelos: um popular, um utilitário e um automóvel de luxo. O primeiro modelo a ser produzido deveria ser o popular, mas devido ao risco envolvido em começar a produção de um veículo que só seria lucrativo caso atingisse alto nível de vendagem, a escolha recaiu sobre o mais luxuoso, denominado Democrata. Contudo, a empresa foi fechada em 1968 dissolvida por ordem judicial, antes mesmo de iniciar a produção, ordem essa que décadas mais tarde foi revogada, mas que enterrou o projeto de vez.
O Democrata, primeiro modelo criado pela IBAP deveria ter duas configurações: carroceria cupê e um sedã de porte médio típico da época, com 4,68 m de comprimento e 1.150 kg. Sua carroceria, de plástico reforçado com fibra de vidro era moderna, alinhada as mais modernas tendências americanas e europeias, notadamente inspirada pelo Chevrolet Corvair no sedã, com o qual era semelhante não apenas na aparência mas também na posição traseira do motor. Também destacava-se pela diferenciação estética entre os modelos sedã e cupê, este último guardando semelhanças com Mustang e Camaro, que ainda nem haviam sido lançados.
A carroceria plástica não era adequada para a produção em grande escala, mas possuía vantagens como a ausência de calhas no teto, facilitar a fixação do revestimento do teto e ser imune a corrosão. Entretanto ela gerava certa desconfiança do público, o que levou a empresa a realizar diversas exibições onde as pessoas eram convidadas a golpear a carroceria com barras metálicas.
A mecânica contava com suspensão independente nas quatro rodas com molas helicoidais, tendo braços triangulares sobrepostos na dianteira e semi-eixos oscilantes na traseira, esta última sendo montada em um sub-chassi fixado a carroceria por quatro parafusos de modo a permitir que o conjunto motor-transmissão fosse retirado facilmente.
O carro havia sido projetado quase inteiramente no Brasil, com exceção do motor, que sob orientação de Chico Landi era de origem italiana. Quem o fabricava era a Procosautom (Proggetazione Costruzione Auto Motori, ou projeto e construção de automotores). Era uma unidade 2,5 litros V6 a 60°, com bloco e cabeçote em alumínio e um comando de válvulas para cada cabeçote. Esse motor era bem peculiar, pois, diferentemente dos motores em V convencionais que apresentam os dutos admissão voltados para o centro e os de exaustão para o lado externo, apresentava os dutos de exaustão saindo do centro do “V” e os dois carburadores Solex C40 pendurados para fora um de cada lado. Isso não representava nenhuma vantagem ou desvantagem, apenas era diferente. Além disso, o bloco do motor e a carcaça da transmissão formavam um bloco único, como nas motocicletas. Este conjunto gerava 120 cv a 4500 rpm, que impulsionavam o carro até os 170 km/h e o tiravam da imobilidade aos 100 km/h em 10 segundos, segundo dados da fábrica.
A empresa, entretanto, levantava muitas dúvidas quanto a sua idoneidade, pois estimava produzir 350 veículos por dia em 1968 (a mesma quantia que a então líder Volkswagen), além de anunciar um preço de Cr$ 4.000.000,00, considerado muito baixo para um carro de seu porte. Um fato curioso, mas que passou sem ser percebido pela maior parte da imprensa era que o sedã em exibição no Salão do Automóvel de 1966 possui um motor de seis cilindros contrapostos, como o do Chevrolet Corvair, o que levantou, anos mais tarde, a hipótese de que os protótipos do Democrata tivessem sido construídos sobre chassis do modelo americano. Outros fortes golpes vieram, como a apreensão de uma pré-série de 500 unidades do motor italiano pela Polícia Federal como contrabando, e o veto a compra da fábrica da FNM pelo governo federal. Porém, o pior golpe veio em 1966, quando os resultados de uma CPI estabelecida em 1965 foram divulgados pela revista Quatro Rodas, onde afirmava-se que a empresa não possuía contabilidade ou balanços e também que até meados de 1966 não haveria qualquer indicio de contato entre a empresa e fabricantes de peças e maquinário. Isso levou ao cancelamento de 37 mil dos 87 mil certificados de ações emitidos pela empresa. Dos acionistas restantes, 20 mil já haviam quitado suas parcelas no inicio de 1968, o que levou Fernandes a transformar a empresa de sociedade anônima em condomínio numa tentativa de aumentar seus recursos. Após uma inspeção relâmpago, o Banco Central moveu duas ações na Justiça Federal contra a empresa, o que provocou um processo-crime na Justiça Estadual contra os diretores da empresa por coleta irregular de poupança popular sob falsa alegação de construir uma fábrica de automóveis e também uma ação de dissolução judicial contra a empresa na Justiça Federal, levando ao fechamento da IBAP. Após 22 anos do fechamento da empresa, Fernandes foi finalmente considerado inocente das acusações, mas já era tarde demais para reavivar o sonho. Essa história, guardadas as proporções, tem muitas semelhanças com o que o norte-americano Preston Tucker viveu nos Estados Unidos da América, sendo acusado de fraudes e calúnias quando apresentou seu projeto para o Tucker Torpedo, mas que por fim foi inocentado, mas não antes de ver seus planos serem destruídos.
Ficha técnica
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Fontes:
Samahá, Fabricio. O Democrata que não houve. Disponível em:http://bestcars.uol.com.br/classicos/democrata-1.htm. Data de acesso: 26/05/2012.
1963 Democrata. Disponível em: http://www.carroantigo.com/portugues/conteudo/curio_carros_conceito_nac_1.htm. Data de acesso: 26/05/2012.
Ruffo, Gustavo Henrique. IBAP Democrata. Disponível em: http://www.webmotors.com.br/wmpublicador/Reportagens_Conteudo.vxlpub?hnid=36613. Data de acesso: 26/05/2012.
Luz, Sérgio Ruiz. Democrata: A história do carro que virou ficção. Disponível em: http://quatrorodas.abril.com.br/materia/democrata-a-historia-do-carro-que-virou-ficcao. Data de acesso: 18/08/2016.
Imagens:
[1]: Retirado de: Samahá, Fabricio. O Democrata que não houve. Disponível em:http://bestcars.uol.com.br/classicos/democrata-1.htm. Data de acesso: 26/05/2012.
[2]: Retirado de: Chevrolet Corvair. Disponível em: http://wikicars.org/en/Chevrolet_Corvair. Data de acesso: 20/08/2016.
[3]: Retirado de: Luz, Sérgio Ruiz. Democrata: A história do carro que virou ficção. Disponível em: http://quatrorodas.abril.com.br/materia/democrata-a-historia-do-carro-que-virou-ficcao. Data de acesso: 18/08/2016.
Informações adicionais:
Para aqueles que quiserem ver algo a mais sobre o Democrata, recomendo a reportagem feita pelo programa Auto Esporte: