O Exterminador dos Pampas

Hoje a grande moda da indústria automobilística são os SUVs e os chamados “aventureiros urbanos”, veículos com acessórios off-road e suspensão elevada, mas que na maioria dos casos não apresentam capacidade sequer para enfrentar um trilha leve. Para os verdadeiros off-roaders, contudo, o real deal está em jipes como Troller, Wrangler e Engesa, que podem enfrentar as mais diversas condições de trilhas como trechos alagados e locais com geografia extremamente irregular. Para os mais hardcore nem isso é o suficiente, e nessa linha surgiram diversos modelos, geralmente derivados de veículos militares: os americanos tem o Hummer H1, os alemães o Unimog e os sul-africanos o Marauder, e todos apresentam características em comum: são grandes, ameaçadores e equipados com possantes motores diesel  que os tornam capazes de vencer qualquer obstáculo posto a sua frente.

De cima para baixo: Unimog, Hummer H1 e Paramount Marauder.
De cima para baixo: Unimog, Hummer H1 e Paramount Marauder.

No Brasil nunca tivemos algo do tipo disponível oficialmente, e o mais próximo que pode-se encontrar na indústria nacional são os caminhões EE-15 e EE-25 da extinta Engesa, que apesar de terem sido comercializados em versões civis são raros e não chegam a apresentar a mesma aura de seus pares internacionais.

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Engesa EE-15. Fonte: VAG [1].

Entretanto, para o empresário gaúcho André de Schuch d’Olyveira, proprietário da Tornado Máquinas de Pintura Industrial, a dificuldade fez a oportunidade para criar um veículo que ao mesmo tempo que pudesse rebocar qualquer coisa e vencer qualquer desafio pudesse ser utilizado para viajar confortavelmente em uma rodovia a 100 km/h. Tudo começou com um amigo do empresário que anos antes havia comprado o chassi de um caminhão Ford F-600 4×4, a cabine de um Engesa EE-15 e um motor diesel Deutz-Magirus V8 de 8,4 litros. Após sete anos sem completar o projeto, esse amigo entrou em contato com André que acabou adquirindo todos os itens.

O primeiro desenho do Exterminador foi apenas uma brincadeira de André com sua filha pequena.
O primeiro desenho do Exterminador foi apenas uma brincadeira de André com sua filha pequena. Fonte: Arquivo pessoal André d’Olyveira.

Porém, como ele iria conduzir o projeto, as coisas seriam feitas a seu modo. Os eixos originais do EE-15 deram lugar a eixos e transmissão da Mercedes-Benz. Aliás, diversos componentes utilizados no projeto são da marca alemã, pois nas palavras do próprio André uma das diretrizes era que “a manutenção precisava ser simples e barata”.

Chassi do Exterminador em fase de pintura.
Chassi do Exterminador em fase de pintura. Fonte: Arquivo pessoal André d’Olyveira.

Para a suspensão foram usados feixes de molas parabólicos (vindos de um ônibus Agrale na dianteira e da dianteira de uma caminhão Ford Cargo na traseira), buscando maior conforto e um curso mais longo para o uso fora-de-estrada.

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O chassi do F600 foi mantido, sendo jateado e recebendo pintura PU com fundo epóxi, enquanto o design também deu algum trabalho, pois o objetivo era ter um veículo de grandes dimensões com proporções similares a um jipe convencional. Para isso a cabine do EE-15, que não é um primor em design, recebeu um pesado tratamento estético. Primeiro foi estendida para uma configuração de cabine dupla com a adoção de novas laterais cortadas com plasma, além de uma nova grade frontal aletada e novo capô. Além disso os para-lamas dianteiros foram alargados para comportar os pneus 540/65 R28 de 540 mm de largura, enquanto a traseira recebeu novos para-lamas e uma pequena caçamba, gerando um visual bem mais harmonioso que o caminhão da Engesa.

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Perto do Exterminador o Engesa parece mais um carro compacto. Fonte: Arquivo pessoal André d’Olyveira.

Já o motor, refrigerado a ar e que originalmente rendia 182 cv a 2.650 rpm recebeu uma preparação pesada, com novos bicos injetores e elementos na bomba, além de duas turbinas BorgWarner com pressão de 1,8 kg, elevando a potência para 300 cv a 3.100 rpm, números mais que suficientes para a proposta do jipe. A esse motor foi aliada uma transmissão do caminhão Mercedes 1113 com diferencial mais longo, do tipo utilizado por ônibus, de forma que a rotação para a velocidade de cruzeiro fica entre 1.140 e 1.430 rpm. A caixa de transferência Engesa foi mantida, porém as engrenagens foram alteradas para gerar uma relação de 1:1,3 quando a reduzida não está selecionada.

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Chassi já com o motor Deutz Magirus. Fonte: Arquivo pessoal André d’Olyveira [2].

Com toda essa potência e um peso na casa das 5 toneladas, o sistema de freios também teve que ser repensado. O Exterminado conta com freios a disco nas quatro rodas com estacionário nas rodas traseiras, acionados a ar e cujos discos foram projetados e fundidos especificamente para ele, aliados a pinças do caminhão Mercedes-Benz 709.

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Vista 3D do conjunto de freios projetado para o Exterminador. Fonte: Arquivo pessoal André d’Olyveira [2].

Como todo bom off-road, o Exterminador conta com um guincho mecânico REO de 80.000 libras, que fica quase invisível embutido no para-choque dianteiro, e outras peças também vem de modelos brasileiros como o tanque de combustível (F-1000) e o painel (adaptado de um caminhão Mercedes, mas com voltímetro, manômetro para os turbos, conta-giros e botões de acionamento para o guincho e sistema 4×4). O resultado final ficou incrível, com um design imponente e capacidade fora de estrada invejável, não devendo nada aos modelos citados no começo da postagem, e nas palavras do próprio André podemos ter uma idéia sobre como é o convívio com o Exterminador:

“Quanto a experiência de andar, posso te dizer que ficou muito mais estável no asfalto do que eu imaginava, incrivelmente confortável, com um freio maravilhoso e com uma capacidade de tração e de transpor obstáculos nunca vista.

De negativo, como ficou muito pesado, ele perdeu em agilidade, e sobre tudo em subidas de areia e lugares em que necessita embalar rapidamente. Ficou mais lento do que eu imaginava, mesmo com o motor 8.4 litros bi turbo.

No banhado, não encontramos nenhum lugar em que houvesse a necessidade de ligar a tração 4×4, só para transpor valetas e erosões.”

Porém, como nem tudo na vida dura para sempre, hoje o Exterminador encontra-se nas mãos de Odair Santini, proprietário da Oda Multimarcas em Caxias do Sul, enquanto o André dedica-se a um novo projeto: depois do Exterminador, agora ele está montando um Unimog U-416 com 700 HP!!!

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Fonte: Arquivo pessoal André d’Olyveira [2].
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Fonte: Arquivo pessoal André d’Olyveira [2].

Fontes:

Garcia, James. Exterminador, o maior do Brasil! Revista 4×44&Cia, edição 244, novembro de 2013.

Molas Hoesch – Perguntas frequentes: 5. O que significa mola parabólica. Disponível em: http://www.hoesch.com.br/index.php/tecnologia-perguntas/br/perguntas-frequentes. Data de acesso: 01/10/2016.

Imagens:

[1]: Retirado de: VAG – Velhos Amigos de Guerra. Disponível em: http://vag-df.wixsite.com/vag-df/vag-dfwixcom-c1b0d. Data de acesso: 03/10/2016.

[2]: Retirado de: Arquivo pessoal de André de Schuch d’Olyveira.

Informações adicionais:

Para aqueles que quiserem ver o Exterminador em ação, recomendo a reportagem do programa Mundo 4×4 do Canal Rural, no seguinte link: http://www.canalrural.com.br/videos/canalrural-taxonomies/mundo-4×4-apresenta-maior-jipe-brasil-22511.

Agradecimentos:

Gostaria de agradecer ao André de Schuch d’Olyveira pela disponibilidade e pronta resposta em atender ao meu contato e pelas informações e fotos que foram gentilmente cedidas para esta postagem.

One thought on “O Exterminador dos Pampas

  1. Excelente, simples com aproveitamento de conjuntos disponíveis no mercado e alta performance.

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