Na etapa de Goiânia, que será disputada nos dias 27 e 28 de julho, a Vicar apresentará o primeiro protótipo do SNG01, o novo carro desenvolvido para a Stock Car, que irá estrear nas pistas na temporada 2025. Esse é o primeiro dos SUVs das três marcas que já confirmaram participação na próxima temporada a ser mostrado de forma real. Na nossa publicação de hoje vamos conhecer em detalhes a especificação do novo carro da principal categoria do automobilismo brasileiro.
1. Chassi
As inovações do SNG01 começam pelo chassi, projetado por Fábio Birolini e que continua sendo de construção tubular como no atual Giaffone JL-G09B porém adotando o aço DP980R da ArcelorMittal em substituição aos tradicionais 4130 e Docol R8 utilizados em aplicações de competição. Para o novo Stock Car, o chassi terá 1960 mm de largura e um entre eixos de 2750 mm, em contraste às medidas de 1880 mm e 2740 mm, respectivamente, dos Stock Car 2023.
Essa especificação de liga foi desenvolvida especialmente pela ArcelorMittal para a Stock Car, e consiste em um aço dual phase (aços em geral compostos por uma matriz ferrítica com ilhas de martensita ou bainita) e que apresenta como características elevada resistência à tração e capacidade de absorção de energia em caso de colisões. Aços dual phase são usados amplamente pela indústria automotiva, permitindo maior resistência mecânica com menor peso em relação aos aços tradicionais. Segundo a Audace Tech, este aço apresenta melhores propriedades em relação aos outros aços de mercado, permitindo uma maior rigidez estrutural para o mesmo peso (o chassi completo pesa 160 kg).
O chassi também realizou ensaios de torção e fadiga em 1.000 ciclos nos laboratórios do IPT, para validar os dados de simulação computacional e o processo produtivo do chassi, garantindo a segurança e desempenho do carro nas pistas. Além disso, a parceria com o IPT incluiu simulações de crash test e absorção de impactos da estrutura.
No quesito segurança, por exemplo, o chassi conta com absoverdores laterais de impacto Impaxx, similares aos carros da NASCAR.
A fabricação do chassi (corte de tubos, soldagem e medição tridimensional) ficará à cargo da Espas Brasil, filial da empresa japonesa Infec Corporation, especializada na fabricação de componentes protótipos para a indústria automobilística.
Além disso, o processo de solda será robotizado, garantindo maior repetibilidade e igualdade entre os chassis, e consequentemente da competição na pista.
A suspensão é independente do tipo duplo A, com sistema pushrod e amortecedores reguláveis Penske. Já as rodas aro 18 foram desenvolvidas pela brasileira Mangels, abrigando freios a disco ventilados HipperFreios, com pastilhas Cobreq e pinças AP Racing de seis pistões na dianteira e quatro pistões na traseira.
2. Powertrain
A nova geração da Stock Car também aposta em uma mudança de motorização: saem os motores V8 aspirados que serão substituídos por motores 4 cilindros, 2.1 litros turboalimentados, desenvolvidos pela Audacetech. Para o desenvolvimento, a Audacetech trouxe o experiente Rafael Cardoso da Motorcar, que entre outros fornecia suporte de pista e motores para modelos AJR e Sigma no Endurance Brasil.
Apesar do material de divulgação ser vago quanto à origem do motor, é visível que a base do motor é um bloco Cosworth Duratec, com diversos componentes da MTR e turbocompressor Garrett G30 de modelo ainda não divulgado,uma família desenvolvida especificamente para motores de competição entre 2.0 e 3.5 litros. Com esse pacote, o motor tem potência divulgada de 500 cv, com torque máximo de 580 N.m.
Uma das curiosidades sobre esse motor é que o alternador não será acionado pelo motor, mas sim pela transmissão. Outra peculiaridade é que, pelo menos nas imagens do evento de lançamento do SNG01 no Velocittà, o local onde a bomba de água mecânica tradicional ficaria montada estava fechado com uma tampa metálica, o que dá a entender que o sistema de arrefecimento será acionado por uma bomba de água elétrica, como já acontece em alguns veículos híbridos.
Já a transmissão é uma Xtrac P1529 sequencial de seis marchas, do mesmo tipo utilizado em modelos GT como Ferrari 488 GTE, Lamborghini Huracán Super Trofeo, Honda NSX GT3 e outros do tipo, o que deve garantir um bom índice de confiabilidade, já que é homologada até 800 N.m e tem extenso histórico de utilização em provas de longa duração. Além do alternador, motor de partida, volante do motor e embreagem ficam posicionados junto ao câmbio na parte traseira, enquanto o motor fica em posição central dianteira, ajudando a melhorar a distribuição de peso.
3. Eletrônica
O gerenciamento eletrônico do carro será feito através de uma FT700+ da FuelTech, gerenciando motor, transmissão e atuando em mapas de motor e acionamento de elementos do veículo, em conjunto com um sistema PDM da Motec e o volante da holandesa Grid Engineering
Além disso, o carro terá conexão 5G para transmissão de dados para as equipes, organização, incluindo câmeras dianteira, traseira e uma câmera interna 360º para o público acompanhar o piloto dentro do carro.
4. Design
Outra grande novidade dos novos Stock Cars é a mudança de carroceria: saem de cena os tradicionais sedans que passam a dar lugar a carenagens inspiradas por SUVs. Apesar da rejeição de boa parte do público, o movimento é de certa forma inevitável, já que os sedans médios já não compõe mais uma fatia relevante do mercado – enquanto em 2003 as opções de SUVs se resumiam ao recém-lançado EcoSport e à Blazer, além de modelos importados em 2023 as vendas de SUVs representaram mais de 40% dos carros novos vendidos. No mesmo período, a oferta de sedans médios no mercado brasileiro decaiu e hoje se limita à Corolla, Civic, Sentra e Jetta, além de modelos de marcas premium como Mercedes, Audi e BMW.
Dessa forma, uma mudança era inevitável se a organização buscasse manter o envolvimento das montadoras, já que com a mudança de mercado os sedans não são mais comercialmente atrativos para investimentos de marketing. O mesmo caminho também foi escolhido pela TC2000 argentina, que apresentou no final de 2023 seu protótipo do VW Nivus para a categoria, que deve ser seguido por modelos de outras montadoras.
Por ser um silhouette, ou seja, um modelo com carenagem inspirada na de um carro de rua, o SNG01 tem uma abordagem diferente dos protótipos e fórmulas quanto à otimização aerodinâmica, com maiores compromissos estéticos em relação à performance. O designer João Paulo Cunha Melo ficou encarregado de conceber o desenho dos novos carros, criando o conceito “Inverso”, uma proposta onde o design dos carros foi pensado como se o carro tivesse nascido primeiro para as pistas, e então adaptado para os modelos de rua.
O resultado do casamento dessa filosofia com as dimensões do carro de Stock Car resultaram em um design mais agressivo e encorpado, dando aos SUVs um visual bem interessante, quase como uma shooting brake. De toda forma, o resultado da mudança de tipologia de carro foi clara, com a Mitsubishi anunciando seu retorno à categoria após um hiato de mais de 17 anos, e com uma possível quarta montadora à caminho.
A nova carenagem, por sinal, volta a ser de material compósito, uma mistura de elementos em fibra de carbono, fibra de vidro, aramida e kevlar, que de acordo com os primeiros anúncios, seria fabricada pela empresa brasileira RALLC Usinagem & Composto. Contudo, nos comunicados recentes a fabricação da carenagem está atribuída à canadense Magna, numa mudança de rota que pode resultar em maiores lead times para componentes de reposição e custos de fabricação. Atualização 01-Agosto-2024: Recebi de uma fonte próxima ao tópico que existe um erro no material de divulgação da Stock Car, e que a carenagem será fabricada pela empresa catarinense Magna Compósitos. O motivo desta mudança não foi comunicado pela Audacetech.
5. Aerodinâmica
Por fim chegamos à aerodinâmica do SNG01. Até o momento, a única carenagem física apresentada é a baseada no Chevrolet Tracker, portanto nossa análise será baseada nela. Contudo, apesar de que alguns elementos inevitavelmente serão diferentes entre as montadoras, a expectativa é que os elementos principais serão iguais, visto que o chassi será sempre o mesmo, e o objetivo da categoria é garantir a igualdade de performance entre as diferentes marcas.
Na dianteira, o SNG01 conta com um difusor (1), que pode ser visto em mais detalhes na imagem abaixo, com duas zonas de expansão laterais à frente das rodas e uma zona de expansão central. Além disso, o capô conta com uma abertura para ventilação do radiador (2), elemento que não é presente nos Stock atuais. Além disso, dois conjuntos de louvres (3) também estão presentes no capô, e as caixas de roda contam também com ventilação através de louvres (4).
Passando à seção central e traseira do carro, as saídas de escapamento ficam posicionadas na lateral direita, logo após a roda dianteira (5), onde também existe uma outra abertura de ventilação (6). Na traseira, o aerofólio (7) conta com suportes do tipo swan neck (7) e sistema DRS, trabalhando em conjunto com o difusor traseiro (8).
É interessante notar a construção da asa traseira, que integra a haste de acionamento do DRS no interior dos suportes, porém ainda não ficou claro o tipo de acionamento (elétrico, hidráulico ou pneumático), nem onde o atuador fica posicionado no carro.
Outro elemento aerodinâmico da traseira são as aberturas de ventilação das caixas de roda traseira (9).
Muito interessante o projeto. Temos hoje uma boa tecnologia e ótimos protótipos no Pais!!
Quanto a Stock , não tenho acompanhado a muito tempo, não gosto de categoria “bolha”, é dificil pra mim assistir e olha chevs,toyotas e Mitsubishi’s etc….todos com um motor de origem Ford !!!! tudo igual , só muda embalagem! olha não quero ser chato, sei que NASCAR e muitas outras categoria de sucesso são assim; simplesmente não gosto, não tenho interesse em assistir, diferente do Endurance Brasil que é uma das melhores do mundo na diversidade!
Mas embora não acompanho, desejo que a nova Stock tenha sucesso!