Na última semana foram realizados os testes oficiais da IMSA em Sebring, onde pudemos ver pela primeira vez o novo Aston Martin Valkyrie LMH nas pistas, totalizando seis marcas diferentes e a estréia de um carro construído no regulamento LMH no campeonato norte-americano.
Análise do BoP
Conforme o BoP divulgado para a prova, os carros mais pesados foram o Valkyrie, os Cadillac e os Porsche, com 1.060 kg, contrastando aos 1.030 kg definidos para o Lamborghini SC63. Quanto a potência, apenas o Aston Martin esteve com o máximo regulamentar de 520 kW (697 HP), e os carros “menos potentes” foram o Acura ARX-06. Outro fator interessante é que a alocação de energia por stint para o Valkyrie foi de 916 MJ, a mesma dos Cadillac V-Series.R, com a mesma taxa de abastecimento, o que pode indicar uma menor autonomia já que o Aston é o único carro não híbrido e o com maior potência do motor à combustão. Minha expectativa para um BoP mais equilibrado seria uma maior alocação de energia para compensar a ausência do fator regenerativo presente nos carros híbridos.
Melhores tempos de volta
Da análise dos melhores tempos de volta, percebemos um equilíbrio entre Porsche e Cadillac, com Acura e BMW ligeiramente mais lentas. Por outro lado, os tempos marcados pelos carros da Lamborghini e Aston Martin mostram que ainda existe trabalho a ser feito pelas equipes. Enquanto o Aston Martin está realizando sua estréia, portanto ainda tem uma curva de aprendizado por parte da equipe e alguma margem de ajuste do BoP a ser implementada.
No caso da Lamborghini o resultado pode estar relacionado ao problema encontrado ainda no primeiro dia de testes (com isso o carro #63 apenas 95 voltas, o menor número entre os GTP), porém a sequência de problemas após o abandono em Daytona por problemas com o sistema de arrefecimento significa uma luz significa uma luz amarela para a equipe Squadra Corse.
Diagrama de Caixa
Antes de iniciar a análise do diagrama de caixa, é importante ressaltar que a análise considera a coleção de todas as voltas em todas as sessões realizadas. Dessa forma, diferentes os diferentes perfis de treino como nível de combustível, troca de pneus e outros fatores podem gerar distorções.
Dito isso, analisando o diagrama de caixa podemos perceber que apesar de Porsche e Cadillac terem se apresentado como os carros mais rápidos, na amostra das 60% melhores voltas o Acura #60 e o BMW #25 foram mais constantes, com uma amplitude amostral menor, o que pode indicar um melhor ritmo de corrida. Principalmente o Acura #60 se destaca, pois o tempo médio de volta da amostra foi o menor entre todos os carros que treinaram.
O Porsche #85 da JDC Miller foi um dos carros que trouxe uma performance aquém do esperado, o que pode indicar um perfil diferente de treinamento em relação aos carros da Penske.
Já o Aston Martin Valkyrie completou menor quantidade de voltas (170) em relação aos outros fabricantes, que completaram cerca de 300 voltas para cada carro, e também apresentou uma amplitude de 4.1 segundos na amostra, uma das maiores, além do pior tempo médio de volta.
Sobre o método
Para analisar o ritmo de prova dos competidores, desenvolvemos um diagrama de caixa modificado, utilizando como referência as melhores voltas do melhor carro de cada fabricante.
Para essa análise seguimos a mesma lógica utilizada no BoP da categoria Hypercar do WEC, considerando os 60% de voltas mais rápidas (para contabilizar o efeito de diferentes estratégias de box e a degradação do carro durante a prova).
O dados do gráfico são interpretados da seguinte forma:
- Ponto verde inferior: representa a melhor volta da prova para um determinado carro;
- Linha verde tracejada: representa os 25% de voltas mais rápidas da amostra (1º quartil);
- Caixa central: representam os 50% de voltas centrais da amostra (2º e 3º quartis);
- Linha central: tempo médio de volta considerando a amostra;
- Linha vermelha tracejada: representa os 25% de voltas mais lentas da amostra (4º quartil);
- Ponto vermelho superior: pior volta da amostra
Em linhas gerais, quanto menores as linhas verde e vermelha, menor a dispersão, ou seja, mais constante foi o carro. Da mesma forma, quanto menor a caixa central, mais constante foi o desempenho. Uma limitação do tamanho e tipo de amostra escolhida é que a distribuição não apresenta um comportamento “normal” nas duas direções, de forma que o primeiro quartil (linha verde, 25% melhores voltas) sempre aparecerá alongado em relação ao quarto quartil (linha vermelha, 25% piores voltas).
Parabéns pela analise, muito interessante saber que enquanto o Porsche esteve mais rápido, o Honda apresentou um ritmo mais consistente.
E concordo quando você diz que ACO deveria rever a distribuição de energia por stint para os carros aspirados, para atrair outras marcas – é uma incógnita saber quando e se a Aston Martin será competitiva sem um conjunto híbrido.
Eu penso que é a única maneira de promover um equilíbrio, já que o regulamento IMSA/ACO sempre promulgou que seria uma plataforma multi-energia. Em geral eles pegam mais pesado no BoP das primeiras provas/testes para carros novos, talvez nas próximas etapas o BoP fique mais favorável ao Aston.