Depois da história da Matra e da Lotus brasileiras, dessa vez vamos acompanhar a história da Lamborghini argentina. Antes de ser comprada pelo Grupo Volkswagen em 1998, a montadora italiana passou por diversas dificuldades financeiras, e pelas mãos de diversos controladores. Após um período como parte da Chrysler Corporation entre 1987 e 1994, a empresa foi vendida para um grupo de investidores malaios e indonésios.
Foi nessa época de transição que a empresa Megatech, então controladora da Lamborghini fez um contrato de distribuição e licenciamento de produtos com o empresário mexicano Jorge Antonio Fernandez Garcia. Esse acordo, com duração de “apenas” 99 anos, deu origem a Automóviles Lamborghini Latinoamérica S.A. de C.V., que além dos direitos de venda e distribuição dos automóveis da marca na América Latina, também obteve o direito de produzir e vender automóveis no mundo todo carregando a marca do touro italiano.
Pelo contrato ter sido fechado antes da compra da Lamborghini pela Volkswagen, a Lamborghini Latinoamérica só teve acesso a plataforma do Lamborghini Diablo, sobre a qual produziu algumas derivações de design um tanto quanto curioso, as quais iremos conhecer na postagem de hoje.
Lamborghini Eros/Coatl
Pelo contrato firmado entre o empresário e a Lamborghini, poderiam ser construídos carros em caráter de série especial, além da possibilidade de realizar um campeonato de GT tanto em nível local quanto mundial.
O primeiro modelo apresentado ao público foi chamado Eros (nome do deus grego do amor), derivado do Diablo e que precisou de quatro anos de desenvolvimento até ser apresentado em 2000 (com direito até a vídeo de lançamento).
O motor teve sua cilindrada aumentada para 6,8 litros, com uma potência de 685 cv, suficientes, segundo a montadora, para acelerar de 0-100 km/h em 3,54 segundos e atingir uma velocidade máxima de 385 km/h. O chassi também foi modificado para lidar com a maior potência, sendo reforçado com o uso de aço cromo-molibdênio, cujo projeto ficou sob responsabilidade da McLaren.
Se por um lado a mecânica teve uma base sólida do Lamborghini Diablo, no design as coisas foram um pouco diferentes. A carroceria de fibra de carbono tem uma aparência reminiscente da Ferrari F50 na dianteira (veja na imagem abaixo), com faróis cobertos e extratores de ar, porém com um para-choques de design mais intrincado que o da macchina da Ferrari.
Nas laterais predominam as grandes entradas de ar com três grandes “guelras” e as rodas de 17” oriundas do Diablo SE30, enquanto sobre o cockpit foi posicionada uma entrada de ar, similar a do Diablo GT, e na traseira vem a parte mais radical e original do desenho. Lembrando de certa forma algumas encarnações do Batmóvel, o extrator de ar traseiro é divido em três partes, numa solução de design no mínimo inusitada, além de lanternas traseiras com um estilo similar ao que poucos anos depois passou a ser tendência para algumas vertentes do tunning.
A fábrica foi estabelecida na Argentina, na região de Buenos Aires, e apenas três unidades foram construídas, uma a marrom que ilustra o post, cujo nome foi mudado para Coatl (palavra asteca para serpente) vendida em 2001 a um preço de US$ 675.000, outra azul de configuração similar vendida em 2003 por US$ 750.000. Dentro desse preço, além do carro estão incluídos detalhes de personalização como um volante construído a mão sob medida, opção de personalização total da cor do veículo, tanto da carroceria quanto do couro do interior, além das iniciais do comprador gravadas no volante e nos cabeçotes. Opcionalmente ainda poderiam ser incluídos itens como discos de freio maiores, cambio sequencial e um kit Twin-turbo no motor. O terceiro carro, de cor branca era uma versão atualizada, com design lateral mais limpo e sem o aerofólio traseiro e foi chamado Eros GT-1, sendo vendido em 2001 por US$ 255.000.
Lamborghini Alar Concept
Alguns anos depois da venda do último Coatl, finalmente a Lamborghini Latinoamérica apresentou um novo modelo em 2007, dessa vez chamado Lamborghini Alar 777. Baseado na mesma combinação de chassi/motor do Diablo, porém dessa vez com cilindrada aumentada para 7,7 litros e potência de 770 HP, que aliada a um peso de 1200 kg é suficiente, segundo estimativa do fabricante para chegar a uma velocidade máxima de 410 km/h, com 0-100 realizado em 3,6 segundos.
O design guarda alguma semelhanças com o Coatl, porém com uma filosofia bem mais limpa, sem os exageros visuais do irmão mais velho, mas ainda bem longe de ser unanimidade. Diversas renderizações e uma ficha técnica foram divulgadas, e fotos que circulam na Internet mostram que ao menos uma unidade foi construída. Noticias surgiram ao longo dos anos sobre o retorno da produção, primeiramente no Uruguai e posteriormente novamente na Argentina, porém até o momento não houve, de fato, um recomeço da produção de veículos Lamborghini Latinoamérica.
Fontes:
Smeyers, Mark. Diablo Coatl Special. Disponível em: http://www.lambocars.com/diablo/diablo_coatl_special.html. Acessado em: 04/07/2016.
Lamborghini Latinoamérica. Disponível em: http://www.lamborghini-latinoamerica.com/. Acessado em: 04/07/2016.
Documento comprovando os direitos de distribuição e produção de Jorge Garcia. Disponível em: http://www.lamborghini-latinoamerica.com/htm2/frames_dl5.htm. Acessado em: 04/07/2016, via: http://web.archive.org/web/20131002083930/http://www.lamborghini-latinoamerica.com/htm2/frames_dl5.htm.
Imagens
[1]: Retirado de: Lamborghini Diablo. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lamborghini_Diablo .Acessado em: 06/07/2016.
[2]: Retirado de:Smeyers, Mark. Diablo Coatl Special. Disponível em: http://www.lambocars.com/diablo/diablo_coatl_special.html.Acessado em: 06/07/2016.