A Nova Era dos LMP3: Motores Toyota, Desafios e Oportunidades – parte 1: Motor V35A-FTS

A partir de 2025, os protótipos LMP3 irão trocar o motor Nissan VK 5.6 V8 por um novo Toyota 3.5 V6 biturbo, derivado do V35A-FTS com preparação Oreca. Essa mudança, motivada pelo fim da produção do motor V8 pela Nismo (previsto para o final de 2024), iniciará o terceiro capítulo da história dessa categoria. Com essa mudança, os quatro fabricantes homologados que permanecem ativos (Adess, Duqueine, Ginetta e Ligier) anunciaram planos para atualizar seus carros, o que demonstra a confiança no sucesso da categoria.

Largada do Road to Le Mans em 2024. 📸24 Hours of Le Mans.

Uma breve história da LMP3:

Criada em 2014 pelo Automobile Club de l’Ouest (ACO), a classe LMP3 surgiu como uma categoria de acesso aos protótipos, substituindo parcialmente os protótipos do Grupo CN que competiam na Europa e Ásia. Inicialmente, seis fabricantes foram homologados para desenvolver carros para a nova categoria:

  • Adess
  • Dome
  • Ginetta
  • Norma (atualmente Duqueine)
  • Onroak (atualmente Ligier)
  • Riley

Evolução e dominância:

Com o passar do tempo, alguns projetos se destacaram. A Dome não chegou a lançar seu protótipo, enquanto o projeto da Riley em parceria com a Ave Motorsports teve produção limitada e ficou restrito à primeira geração dos LMP3. Entre os demais, o protótipo da Ligier dominou o mercado, tendo como maiores competidores o projeto da Ginetta-Juno no primeiro período de homologação e o Duqueine D08 na segunda fase.

Ligier JSP320 Track Day. 📸 BTZ Motorsport

Nova era com novo motor:

A mudança para o motor Toyota marca o início de um novo período de homologação, que se estende de 2025 a 2029. Curiosamente, esse motor tem um diâmetro de pistão de 85,5mm para um curso de 100mm, resultando em uma característica sub quadrada (diâmetro do pistão menor do que o curso), o que resulta em uma biela mais longa e consequentemente maior massa oscilante, com duas consequências: maior robustez ao custo de uma limitação quanto à possibilidade de se atingir rotações mais elevadas, mas adequado à proposta de um motor sobrealimentado, especialmente verdadeiro neste caso, levando-se em conta que na configuração de rua o motor V35A já tem 420 HP, muito próximo ao objetivo de 470 HP para a configuração LMP3. 

Motor V35A. 📸 Toyota

Entre as características interessantes desse motor estão os coletores de descarga integrados ao cabeçote, reduzindo massa e complexidade da montagem (a mesma solução pode ser encontrada nos motores das famílias Firefly da Stellantis e EA211 da Volkswagen, por exemplo).

Cabeçote do motor V35A. 📸 Toyota-club.net.

Além disso, as sedes de válvulas não são produzidas pelo processo tradicional a partir de um disco sinterizado, montado sob interferência no cabeçote e usinado para a dimensão final. No caso do motor Toyota, as sedes são criadas no cabeçote por um processo de deposição a laser de uma liga à base de cobre, processo que teve origem nos anos 90, utilizado nos motores dos Toyota do Grupo C e no Celica GT-Four do mundial de rally, o que permite sedes muito mais finas e uma melhor troca térmica entre a válvula e cabeçote.

Detalhe do posicionamento das válvulas no motor V35A. 📸 Toyota-club.net.

O bloco, de alumínio com camisas em ferro fundido também conta com um bedplate, o que acrescenta rigidez à estrutura (solução que pode ser encontrada no Brasil nos motores da família Firefly e alguns motores da família Fire, como o T-JET).

Construção do bloco do motor V35A, dividido em um bloco superior e bedplate. 📸 Toyota-club.net.

Outra solução interessante do motor de rua, é o uso de watercoolers ao invés de intercoolers. Enquanto os intercoolers realizam a troca de calor pelo mecanismo ar-ar (o ar quente saindo do compressor da turbina sendo resfriado pela passagem de ar externo), os watercoolers utilizam o mecanismo ar-água, com um circuito de água dedicado ao arrefecimento do ar de aspiração, solução também presente nos motores turbo dos grupos Volkswagen e Stellantis, e que permite maior troca térmica em condições de baixa velocidade e elevada temperatura ambiente.

Esquema do sistema de Intercooler e aspiração do motor V35A. 📸 Toyota-club.net.

O quanto desses sistemas será mantido para o motor dos LMP3 ainda é um mistério, e é bem provável que o sistema de watercooler seja substituído por um intercooler tradicional ar-ar para reduzir massa e o centro de gravidade do trem de força. Resta saber como será a durabilidade desse motor, que tem no histórico um recall de mais de 100 mil unidades nos Estados Unidos por uma falha no processo de usinagem que levava a uma falha das bronzinas do virabrequim, ainda que segundo a Toyota o problema tenha ficado limitado à um período específico de produção.

Mercado em expansão:

O mercado para os LMP3 é promissor, com campeonatos como o European Le Mans Series (ELMS), Le Mans Cup e VP Racing SportsCar Challenge, além de diversos campeonatos nacionais e regionais. Nossa estimativa é de que, em 2024, o mercado potencial esteja acima de 100 carros ativos.

Novos carros para 2025:

Até o momento, três fabricantes apresentaram seus novos carros para 2025 (Adess, Duqueine e Ligier), e com a britânica Ginetta confirmando que também está desenvolvendo sua atualização do protótipo G61-LT-P3 para o novo regulamento. Nos próximos dias você poderá conferir nossa análise técnica dos carros apresentados, e assim que o novo carro da Ginetta for apresentado também iremos trazer sua análise nas nossas mídias.

  1. Adess AD25
  2. Duqueine D09
  3. Ginetta ???
  4. Ligier JS P3-20

Fontes:

Toyota Rethinks the Flagship. Disponível em: https://www.mobilityengineeringtech.com/component/content/article/43334-sae-ma-02636.

Toyota engines – V35 – Dynamic Force series (V6). Disponível em: https://toyota-club.net/files/faq/19-09-10_faq_df_v6_eng.htm.

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