Império Endurance Brasil: um guia das categorias

Numa época em que o automobilismo fica cada dia mais engessado e baseado em sistemas de balanço de performance, os fãs mais fervorosos sonham sobre como seria um campeonato onde imperasse a liberdade técnica, semelhante ao que campeonatos como Can-Am e Interserie foram no passado. Ainda que exista categoria Unlimited de Pikes Peak, que trouxe a vida carros como o Volkswagen ID.R e o Peugeot 208 Pikes Peak, essa é apenas uma das categorias de uma prova de cerca de 20 km, disputada uma vez ao ano. Outras categorias, como as de Time Attack, também permitem que os engenheiros pensem “fora da caixa”, mas ainda assim sem uma disputa roda a roda nas pistas.

Então, o que você pensaria se eu lhe dissesse que existe um campeonato dos sonhos como esse onde, além dos requisitos de segurança, apenas peso e cilindrada do motor são controlados?

Esse Campeonato não só existe, como é disputado aqui mesmo no Brasil. Organizado pela APE (Associação dos Pilotos de Endurance), o Império Endurance Brasil tem raízes em 2014, quando a APE passou a organizar o Campeonato Gaúcho de Endurance. Até então, campeonatos de provas de longa duração eram perenes no Brasil, oscilando entre períodos de baixa e pontos altos, como o início dos anos 2000 que viu máquinas como o Lister Storm de Alcides Diniz, o protótipo ZF-Riley & Scott dos Giaffone e o Audi TT DTM dos Negrão disputando as vitórias nas pistas.

Sob a organização da APE, o que era um campeonato regional passou a crescer no cenário nacional, atraindo pilotos de diversos estados, até que outro ponto de inflexão foi atingido. A partir de 2017, a APE conseguiu um acordo de patrocínio máster com a Cervejaria Imperial, primeiro com a marca de energéticos Dopamina, e depois com a cerveja Império. Com esse suporte adicional, a cobertura do campeonato melhorou, com transmissões ao vivo pelos canais do YouTube e Facebook da categoria, atraindo ainda mais competidores. Como em outros campeonatos de endurance, as corridas contam com a participação de protótipos e GTs, num total de 8 categorias (4 por tipo de carro), além de uma categoria geral, compondo um grid bastante eclético. Para facilitar a identificação dos carros, protótipos devem obrigatoriamente utilizar faróis com lente branca, enquanto os GTs devem utilizar a cor amarela.

Entre os pilotos, cada prova é uma mistura de profissionais, amadores e gentleman drivers, com idade variando dos 20 a mais de 70 anos. Alguns nomes familiares que competiram na temporada 2019 são: Daniel Serra, Ricardo Maurício, Marcos Gomes, Alexandre Negrão, Sérgio Jimenez, David Muffato e Tarso Marques, entre muitos outros.

Essa combinação de máquinas e pilotos resulta em grande equilíbrio, onde ao menos 10 carros entram com chances reais de vitória a cada prova. Como testemunho da elevada competitividade da categoria, as oito provas da temporada 2019 tiveram quatro vencedores diferentes, divididos 6-2 entre protótipos e GTs. Mais ainda, apenas duas vezes o vencedor conseguiu aplicar uma volta sobre o segundo colocado, e o título da categoria geral foi decidido apenas na última da prova de encerramento do campeonato.

Para 2020, o Endurance Brasil promete emoções ainda maiores, com novos carros e pilotos se juntando em diversas categorias, bem como o anúncio de que as provas terão cobertura ao vivo pelos canais SporTV, em adição ao live streams do YouTube e Facebook.

Conhecendo as categorias

P1

Atuais campeões: Nilson Ribeiro / José Roberto Ribeiro (AJR #65)

Principal categoria entre os protótipos, a P1 também é a que tem os carros mais velozes da pista. Atualmente o campeonato é dominado pelos melhores protótipos construídos no país, porém carros importados como os Ginetta G57 e G58 e carros homologados como LMP3 também podem ser inscritos, ainda que nenhum LMP3 tenha sido confirmado até o momento, mesmo com os carros podendo competir sem restrições de potência do motor. Ainda assim, podemos esperar que dois modelos Ginetta G57 sejam inscritos pelo Team Ginetta Brasil. Mas os carros mais impressionantes do grid são mesmo os protótipos tubulares construídos localmente, como o AJR, Sigma e DTR. Em adição aos limites de peso e cilindrada, algumas opções de motores importados são proibidos, para evitar uma escalada de custos que possa ferir o equilíbrio financeiro e competitivo do campeonato.

Fora isso, a competição é do tipo Fórmula Libre, o que permite que conceitos como asa-móvel e trens de força híbrido podem ser explorados, sem necessidade de zonas de ativação e regulamentos complexos ditando como armazenar e utilizar energia. Além dessa liberdade técnica, a categoria permite que as equipes escolham os fornecedores de pneus como bem entenderem, algo que já saiu de cena da maioria das categorias automobilísticas de ponta. Atualmente, os competidores utilizam pneus fornecidos pela Michelin e Pirelli, que possuem faixas de trabalho e durabilidades diferentes, adicionando mais um fator à equação de cada prova.

GT3

Atuais campeões: Xandy Negrão / Xandinho Negrão (Mercedes AMG #9)

Como o nome entrega, a GT3 é a categoria de carros que sejam assim homologados pela FIA ou por alguma entidade nacional. Ao contrário de outros campeonatos que utilizam esse tipo de carros, no Endurance Brasil os GT3 não sofrem um BoP, o que significa dizer que correm sem restritores de potência, com diferenciação apenas no peso mínimo. Carros que competem nessa categoria incluem Ferrari 488 (carro que obteve a pole-position da categoria GTD nas 24 Horas de Daytona), Porsche 911 GT3 R, Mercedes AMG e Lamgorghini Huracàn.

GT3 Light

Atuais campeões: Sérgio Ribas / Guilherme Ribas (Aston Martin #63)

Até 2018, todos os carros GT3 competiam dentro da mesma classe, até que a divisão Light foi criada em 2019. Destinada a carros construídos antes 2012, a GT3 Light foi criada após a organização perceber de que modelos mais antigos, muitos vindos da antiga GT Brasil, não eram capazes de acompanhar o ritmo dos modelos mais recentes. Competem nessa categoria carros como Ferrari 458, Aston Martin Vantage V12, Lamborghini Gallardo LP560 e LP600+, além de carros da Stock Car sem restritores na admissão.

P2

Atuais campeões: Paulo Sousa / Mauro Kern (Tubarão IX #32)

A categoria P2 é uma espécie de categoria legado, pois após 2018 ficou claro que a chegada de modelos como o AJR havia tornado obsoletos diversos protótipos de construção mais antiga. Com isso, um novo regulamento para a P1 foi revisado a partir de 2019, e o regulamento vigente até 2018 passou a ser utilizado para a P2. A principal diferença entre as categorias está na capacidade máxima do tanque de combustível, inferior na P2, porém as demais liberdades de projeto e construção são similares à P1. Competem pela P2 tanto carros com rodas aro 13, como o Predador, Tubarão e Scorpion, quanto carros com rodas aro 18 como GeeBee R1, Metalmoro MR18 e MCR Lamborghini. Teoricamente, qualquer carro de estrutura tubular construído antes de 2018 é elegível para a categoria, de forma que modelos como os Daytona Prototypes tubulares e Radical SR8 poderiam participar dessa categoria.

GT4

Atual campeão: Renan Guerra (Ginetta G55 #555)

A GT4 é a categoria para carros com esse tipo de homologação, seja ela da FIA ou a nível nacional. No Endurance Brasil, é empregado o mesmo BoP aplicado originalmente pela entidade certificadora. Entre os modelos da categoria estão carros como Mercedes AMG, Ginetta G55 e McLaren 570S. Também participou de parte da temporada 2019 o BMW M3 GTR (E92) de Henry Visconde, um carro originalmente de rua e que foi preparado para competições aqui mesmo no Brasil.

P3

Atuais campeões: Carlos Antunes / Yuri Antunes (MRX #72)

Essa é a classe para os protótipos menores, normalmente utilizando rodas de 13 polegadas e motores com cilindrada acima de 2.000 cm³, ou conjunto motor/transmissão de motocicletas com até 1.500 cm³, como o protótipo inglês Radical SR3. Não é incomum que carros dessa categoria sejam construídos utilizando componentes oriundos de monopostos da Fórmula 3, tais como transmissões, componentes de suspensão e até pneus, chegando ao ponto de um antigo chassi Ralt de F3 ser convertido para esporte-protótipo. Apesar de não disputarem a vitória na geral, os carros da P3 têm velocidade e confiabilidade suficiente para estar constantemente no top 10 da classificação geral. O modelo mais comum utilizado pelos competidores é o MRX da Metalmoro, um carro de desempenho já comprovado no cenário nacional, e que já conquistou diversas vitórias importantes.

GT4 Light

Atuais campeões: Júnior Victorette / Marcelo Karam (Mercedes CLA 45 AMG #14 / Audi RS3 TCR #14)

A categoria de entrada entre os GTs é mais uma categoria de carros de turismo do que gran turismo propriamente ditos. Entre os carros permitidos nessa classe estão modelos FIA TCR, Stock Cars com restritores, carros do Campeonato Brasileiro de Turismo, além de carros de categorias monomarca como o Trofeo Maserati, Mercedes-Benz Challenge e Trofeo Linea.

P4

Atuais campeões: Ricardo Haag / Mário Marcondes (MRX #34)

Categoria de entrada entre os protótipos do Endurance Brasil, a P4 é focada em baixo custo. Para atingir esse objetivo, os motores são limitados a 2,1 litros e 2 válvulas por cilindro (normalmente motores AP), e os pneus devem obrigatoriamente ser Pirelli nacionais. A categoria permite a utilização de transmissões sequenciais importadas, porém com uma penalidade de peso em relação aos transeixos nacionais com trocas em H. Os carros mais comuns dentro dessa categoria são os protótipos Aldee Spyder, com modelos como MRX, MCR e Aldee RTT também participando sendo inscritos por alguns competidores.

Nota: os carros apresentados nessa postagem são uma coletânea dos modelos que participaram de provas nas temporadas 2018 e 2019, bem como alguns já anunciados para 2020. Não significa que todos estarão presentes, bem como existem novos carros que estão a caminho do campeonato. Próximo a primeira etapa teremos uma postagem com os principais competidores e possíveis novidades para a temporada 2020.

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