Um dos projetos mais recentes para o Endurance Brasil é o protótipo Roco 001, desenvolvido por Robbi Perez e José Cordova sobre um chassi Ralt RT34 de Fórmula 3, e que iremos conhecer na postagem de hoje.
Ralt RT34
A Ralt Engineering foi fundada por Ron Tauranac e Austin Lewis (daí o nome Ron + Austin + Lewis + Tauranac). Após o sucesso dos Brabham de F1 projetados por Tauranac nos anos 60, a Ralt iniciou em 1975 fabricando o RT1, um monoposto com monocoque em alumínio capaz de receber diversas motorizações e elegível para diversos campeonatos como Fórmula 2, 3 e a Fórmula Atlantic americana.
Após muito sucesso com o modelo RT3, a proibição do uso do efeito-solo na F3 a partir de 1985 forçou a Ralt a desenvolver um novo monoposto para a categoria, o RT30, que daria origem a uma série de modelos que se estenderia até 1993.
Entre esses modelos está o RT34, utilizado como base para o Roco 001, e que foi apresentado para a temporada de 1990, com forte presença em diversos campeonatos de F3 pelo mundo, incluindo o campeonato inglês onde Mika Häkkinen sagrou-se campeão à bordo de um RT34.
Roco 001
Voltando para o Brasil, Robbi Perez e José Cordova competiam na Endurance Brasil à bordo do protótipo MCR-Audi Turbo. Ainda que fosse um carro veloz à sua época, o protótipo já sentia o peso da idade frente a projetos mais recentes como os AJR, Sigma e cia.
Dessa forma, surgiu a idéia de utilizar a mecânica de um Fórmula 3 para desenvolver um protótipo P3 com motor/transmissão da Suzuki Haybusa, visto que o regulamento permite um peso mínimo bem inferior para protótipos dotados de motorização de motocicletas (450 kg vs 680 kg dos protótipos com motorização automotiva de 2.300 cm³).
Partindo do monocoque do Ralt inglês, o motor e transeixo originalmente longitudinais deram lugar ao motopropulsor Suzuki instalado em posição transversal. Isso exigiu um completo redesign dessa seção do carro, com a adição de um suporte para montagem dos braços da suspensão traseira, montados on board (1), e servindo de suporte para o diferencial traseiro, ligado ao motor através de uma corrente (2).
A primeira aparição do modelo aconteceu nas 4 Horas de Goiânia, porém problemas impediram a participação na prova de forma que o Roco realizou sua estreia oficial nas 4 Horas de Interlagos. Nessa prova a equipe paranaense obteve o primeiro pódio da temporada, com a quinta posição na categoria P3. Em seguida, a dupla disputou as 500 Milhas de Londrina, onde obtiveram uma boa terceira posição no grid de largada, porém novamente enfrentaram problemas que forçaram um abandono prematuro.
Fechando a temporada 2019, o protótipo azul ainda participou das 6 Horas de Curitiba, prova que se mostrou novamente muito dura com os protótipos em geral, e onde o time obteve uma boa quarta colocação na classificação da P3.
Para 2020 a equipe paranaense trabalhou duro para reduzir o gap em de performance em relação aos ponteiros, e o Roco foi um dos carros com maiores atualizações da P3. 1. Essas modificações se concretizaram em resultados com a terceira posição no grid de largada em sua categoria na primeira prova da temporada, em Interlagos. Além das diversas melhorias aerodinâmicas, a suspensão dianteira do Roco foi atualizada, e o motor Hayabusa teve sua cilindrada aumentada para 1.500 cm³, produzindo cerca de 280 HP.
Para a etapa seguinte, disputada em Curitiba, o Roco receberia sua última atualização com a instalação do Halo, item que se tornou obrigatório em protótipos abertos na temporada 2020 do Endurance Brasil.
Aerodinâmica
Conceitualmente, o Roco segue a mesma filosofia de design dos protótipos da segunda série da Can-Am norte-americana e da Interserie européia, se apresentando como um monoposto carenado. Ainda que alguns puristas torçam o nariz para esse tipo de design, existem diversos exemplos no automobilismo brasileiro e mundial dessa filosofia:
Voltando ao Roco, inicialmente o protótipo em pouco diferia do Ralt RT34, notadamente pelos pára-lamas no estilo pontoon na dianteira (3) e na traseira (4). Na lateral, o Roco recebeu ainda um bargeboard (5), cuja principal função parece ser de ponto de fixação para a numeração padrão da categoria. A asa traseira de dois elementos do F3 também deu lugar a um novo design com um único elemento (6), percorrendo a largura total da carenagem.
Na vista traseira, também podemos ver as aberturas de ventilação das caixas de roda (7), e o difusor traseiro (8).
Para a primeira prova da temporada 2020, a seção dianteira não sofreu grandes alterações em relação ao Ralt F3, e foi do meio do carro para trás que ocorreram mudanças consideráveis. Começando pelos sidepods, que em 2019 eram praticamente os originais do Ralt de Fórmula 3 e contavam com desviadores (8) para melhorar o fluxo de ar, provavelmente para compensar algum déficit de arrefecimento, e passaram a um design similar a monopostos mais recentes (9) e e agora passaram a ter um formato similar ao de monopostos F3 mais recentes, inclusive com chimneys (10), similares aos utilizados na F1 no início dos anos 2000.
Além dos chimneys, as novas tomadas de ar dos radiadores receberam aberturas de ventilação nos planos lateral e superior (11), maximizando a extração de ar dos radiadores. Também foi adicionada uma tomada de ar / carenagem para o motor, melhorando tanto a aerodinâmica quanto a aspiração do motor Suzuki. Na traseira, os endplates foram substituídos por elementos maiores (13), capazes de receber a numeração padrão e dessa forma, eliminando a necessidade dos bargeboards laterais. Outra característica do protótipo, implementada no decorrer da temporada 2019, é a tubulação de escapamento direcionada para a saída do difusor (14), no que parece ser uma tentativa de implementar um difusor soprado.
O baixo peso proporcionado pela combinação de chassi de F3 e powertrain de motocicleta se refletia em menor consumo de pneus e freios durante as provas longas, porém a base do chassi Ralt limitou a capacidade do tanque a um máximo de cerca de 70 litros (10 a menos do que o permitido por regulamento), fato que agravou o déficit de cerca de 60 HP potência do motor Suzuki para os motores Ford Duratec e Honda K20 dos melhores MRX. Esses fatores se mostraram determinantes para que o Roco não demonstrasse o mesmo ritmo de prova dos P3 mais velozes, o que levou à sua aposentadoria do Endurance Brasil no final da temporada 2020. Ainda assim, como prova da boa execução do projeto, minha pesquisa aponta que o Roco detém o melhor tempo de volta para um protótipo com motorização Hayabusa aspirada em Interlagos:
A equipe de Robbi Perez e Jose Cordova ainda participou de mais uma prova com o simpático protótipo, a edição 2021 das 1.000 Milhas Brasileiras. Comprovando a variedade de conceitos entre os carros presentes na prova, o Roco 001, obteve a quarta posição na geral, com a marca de 1m40s586. Com a tripulação reforçada pelo piloto e chefe de equipe Juliano Moro e o experiente Maurizio Sala (que acabou não pilotando na prova), o Roco liderou as 1.000 Milhas entre a primeira e quarta hora de competição, quando um problema no sistema de transmissão por corrente forçou uma parada mais longa, e a liderança caiu nas mãos do protótipo SPMec R1 #31. Ainda assim a equipe conseguiu recuperar parte do terreno perdido, finalizando a prova na terceira colocação geral, e segunda da classe P3 atrás do MRX #74 de Leandro Totti, vencedor da prova na classificação final.
Desde então o Roco não participou de nenhuma outra prova, e com o anúncio de Robbi Perez e José Cordova irão competir com um protótipo AJR na temporada 2022 do Endurance Brasil, não devemos voltar a ver o valente carro em ação.
Resultados
Você também poderá se interessar por:
Spirit AR3 (2011 – )
Baseado no chassis do carro da Fórmula V 1.8 cearense, o Spirit foi projetado por Alexandre João Romcy como um protótipo robusto, seguro e de baixo custo.