Algum tempo atrás, tivemos aqui no site uma lista com 10 protótipos mostrando que ainda existia vida no automobilismo brasileiro. Desde então, passaram-se quatro anos, e uma crise financeira muito pesada, mas ainda assim os fãs de automobilismo têm motivo de sobra para comemorar: novas categorias floresceram no país, e jovens projetistas e equipes tradicionais criaram máquinas impressionantes, capazes em muitos casos de fazer frente a modelos de renome internacional nas categorias das quais participam.
Aqui, abro um adendo pois infelizmente, algumas pessoas parecem apenas ver valor nas soluções internacionais. Não que seja errado existirem categorias como GT3, TCR ou Fórmula 3 no Brasil, e nem que eu esteja pregando o fechamento do país, até porque isso seria a contramão dos tempos em que vivemos. A verdade é que essas e outras categorias “padrão FIA” apresentam custos elevados, pois foram concebidas para o cenário europeu, considerando o poder aquisitivo e o parque fabril daquele continente. Aqui no Brasil, isso resulta que tudo precisa ser importado, implicando em maiores custos, seja devido aos elevados impostos de importação, seja devido ao custo/tempo logístico bem superior, que obriga equipes utilizando equipamento estrangeiro a manter estoques maiores de peças de reposição (sem falar no excesso de burocracia nas aduaneiras).
E é dessa necessidade de soluções voltadas à realidade brasileira que grande parte dos carros que vamos conhecer surgiram. Os construtores abaixo, cada um em sua realidade, merecem grande respeito e admiração pelo que já atingiram, e para mim são prova mais do que suficiente de que o automobilismo brasileiro tem sim futuro. Mas sem mais delongas, vamos ao Top 10 de hoje:
GT Race Cars: GeeBee R5
Um dos projetos para as provas de Endurance, o GeeBee R5 é o protótipo mais recente apresentado pela GT Race Cars, do paulista Jaime Gulinelli. Concebido para a categoria P3 da Endurance Brasil, o carro teve como piloto de testes o grande Maurizio Sala, outro daqueles injustiçados pela mídia brasileira, mas com extensa carreira internacional e que nas provas de longa duração pilotou máquinas icônicas como o Porsche 962 C, Mazda 787B, McLaren F1 GTR e Lotus Elise t1 em provas do campeonato japonês, FIA GT e nas 24 Horas de Le Mans.
O GeeBee R5 é um protótipo de construção tubular, equipado com motor Opel 2.0 e utilizando diversos componentes de carros de Fórmula 3. Desde 2016, o modelo já participou de uma edição dos 500 km de São Paulo e de diversas provas do campeonato paulista de Força Livre, sempre se mostrando muito competitivo. Para 2020 a equipe F/Promo Endurance Racing irá trazer o belo protótipo campineiro para as pistas do Império Endurance Brasil.
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Minelli Racing Cars: MG15
Após a queda de diversas categorias escola do automobilismo brasileiro, a Fórmula Inter surgiu em 2016 idealizada pelo empresário Marcos Galassi, para ser uma opção acessível de monoposto à jovens pilotos recém-saídos do kartismo. Para isso, diferente de outras categorias, o piloto não tem a posse do carro, pagando apenas pelo uso, com toda a infraestrutura sendo fornecida pela organização da categoria. O carro, chamado MG15, é resultado da junção do experiente construtor José Minelli da Minelli Racing Cars e jovens engenheiros da FEI, com mais de 900 horas de simulação CFD e estrutural. Com estrutura tubular, o monoposto paulista tem construção voltada para a segurança, com crash box dianteiro e traseiro, além de side pods estruturais em plano inclinado. O resultado final é um carro com apenas 490 kg (sem combustível), que equipado com um motor Ford Duratec 2.0 de 191 HP atinge tempos de volta inferiores a 1m50s em Interlagos.
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Metalmoro / JLM Racing: AJR
Apresentado em 2017, o AJR é a visão do piloto Juliano Moro para um protótipo de provas de endurance. Com aerodinâmica desenvolvida pela empresa Dynamic Flow Solutions e chassi desenvolvido pelo tradicional fabricante gaúcho Metalmoro. O primeiro carro foi apresentado com motorização Honda K20 Turbo e transeixo Xtrac direto da LMP3, além de novidades como freios de carbono. Após encontrar problemas de confiabilidade nas primeiras provas, o protótipo ganhou vida mesmo ao receber o motor Chevrolet LS3 V8 similar ao da Stock Car Brasil. O resultado é atualmente o protótipo mais veloz do país com 20 pole-positions nos 20 treinos classificatórios onde um AJR participou.
Em 2018, diversas equipes migraram para os AJR, com pelo menos 6 carros concluídos e uma grande variedade de motores: além de Honda K20 e Chevy LS3, surgiram modelos com motorização Honda K24 Turbo e Audi 2.0 Turbo, num ano que culminou com o título da categoria P1 do Império Endurance Brasil para o piloto Emilio Padrón. A temporada de 2019 foi a de consagração do AJR, trazendo atualizações aerodinâmicas a cada prova, incluindo a adoção de um sistema de asa móvel, estilo F1. Dois novos carros foram entregues, para um total de 8 protótipos, com a inclusão de uma nova motorização Nissan V6, inicialmente aspirada e agora com adoção de supercharger. O resultado dessa evolução constante: 6 vitórias na geral em 8 provas, com a dupla Nilson e José Roberto Ribeiro faturando os títulos nas categorias Geral e P1 do Império Endurance Brasil.
Leia mais aqui: https://nivelandoaengenharia.com.br/pt/blog/2020/05/07/metalmoro-jlm-ajr/
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Sigma Kart: Sigma P1
Apresentado em 2017, o Sigma P1 nasceu para as disputas das provas de longa duração nas pistas brasileiras. Concebido pelos engenheiros Evandro Flesh e Pedro Fetter, o carro nasceu a partir de um conceito inovador: a transmissão convencional foi dispensada, e em seu lugar foi utilizado um motor elétrico para preencher as lacunas de torque do motor Audi 4.2 V8 Turbo. Após a estréia nas 12 Horas de Tarumã de 2017, o time de engenheiros concluiu que, apesar de viável, o desenvolvimento do sistema híbrido tomaria muito tempo e recursos, decidindo por um caminho mais convencional, ao adotar um transeixo Xtrac de 6 marchas. Desde então o modelo recebeu duas atualizações (em 2018 e 2019), incluindo um sistema de DRS na asa traseira. Para 2020, a expectativa é de que um segundo Sigma venha para as pistas, com melhorias para colocá-lo na disputa da categoria P1 da Endurance Brasil.
Leia mais aqui: https://nivelandoaengenharia.com.br/pt/blog/2020/05/02/sigma-p1/
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Fórmula Vee Brazil: Naja 01D
Outro monoposto nacional para categorias escola, o Naja 01D é uma evolução do modelo Naja 01 utilizado pela Fórmula Vee Brasil. À primeira vista, chama a atenção a barbatana dorsal, porém essa não é a única modificação do chassis: o carro como um todo sofreu um redesign, com foco na melhoria da proteção ao piloto, e substituindo conceitos antigos como a suspensão traseira “swing axle” e transmissão 4 marchas por uma suspensão traseira multilink e transmissão longitudinal de 5 marchas retirada do Volkswagen Gol. Equipado com motor VW EA111 1.6 de cerca de 120 cavalos, os bólidos projetados pelo experiente engenheiro Ricardo Divila em conjunto com a GT Race Cars se mostraram velozes, com um pódio já na primeira prova.
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Giaffone Racing: Buggy V8
Saindo do asfalto, outra revelação da engenharia automobilística brasileira é o Buggy V8 da Giaffone Racing. Responsável pela construção e suporte aos bólidos da Stock Car desde a virada do milênio, a empresa paulista começou a se aventurar nos rallies cross-country preparando os motores de protótipos como o Sherpa e o T-Rex. Com esse envolvimento inicial, a Giaffone percebeu que existia uma lacuna para modelos de custo inferior aos protótipos 4×4 nas competições nacionais, e partiu para o desenvolvimento de um buggy similar aos modelos da categoria T1.3 do mundial da FIA. A estreia do carro foi no Rally Caminhos da Neve em 2018, com vitória da dupla Reinaldo Varela / Gustavo Gugelmin, à qual se seguiram outras vitórias nos campeonatos Paraguaio e Brasileiro, frente a modelos consagrados como a Ford Ranger FIA T1 desenvolvida pela sul-africana Neil Woolridge Motorsports.
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Royal Racing Team: Spirit APW
Enquanto o automobilismo das regiões sul e sudeste recebem maior foco da mídia, o automobilismo da região nordeste é também merecedor de destaque, pela variedade de categorias e belas disputas proporcionadas. Em especial, merece destaque o automobilismo cearense, que a despeito de tdas as dificuldades e mesmo com o Autódromo Virgílo Távora correndo risco de dar lugar a algum empreendimento imobiliário (como alguns outros autódromos brasileiros) continua com as disputas do campeonato cearense de esporte-protótipos. Disputado por máquinas locais como o CTM e Spirit 1.8, nos últimos anos o certame vivenciou a chegada dos protótipos Aldee Spyder. Desenvolvido por Alexandre Romcy e Silvio Camelo, o Spirit APW surgiu em 2018 como uma nova roupagem para os CTM, voltado para provas de longa duração.
MESGAFERRE: Puma P052
Outra boa novidade dos últimos tempos é o retorno da Puma, pela mão dos empresários Fernando Mesquita e Reginaldo Galafazzi. Com o slogan “Nas pistas nascemos, pelas pistas voltaremos”, a dupla promete voltar com a icônica marca de esportivos brasileira. Para isso, dois modelos nasceram: o P052, voltado para as pistas e o P053, para as ruas. Sobre o P052, o modelo servirá de base para o desenvolvimento do modelo de rua, utilizando a experiência adquirida nas pistas. Com estrutura tubular e carroceria de fibra de vidro, o carro tem peso de apenas 570 kg, e hoje é movido por um motor EA111 1.6 de 120 cv. Apesar da pouca potência, e de estar utilizando pneus radiais, os pilotos de testes Gabriel Maia e Luiz Costa tem obtido bom desempenho do carro, que deve competir em categorias como Endurance Brasil e Força Livre Paulista.
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Roco Racing Cars: Roco 001
Uma das grandes novidades da temporada 2019 da Endurance Brasil foi o protótipo Roco 001, da Roco Racing Cars. Criado pelos pilotos Robbi Perez e José Cordova, o Roco foi desenvolvido para a categoria P3 e é baseado em um chassi Ralt RT34 de Fórmula 3, que recebeu nova carenagem cobrindo as rodas dianteiras e traseiras, além de uma nova asa traseira aproveitando a largura total do carro. Como mecânica, o Roco recebeu um motor Suzuki 1340 cc com preparação da Mecânica Overboost. O time estreou o carro nas 4 Horas de Goiânia, onde enfrentaram diversos problemas, típicos de um carro novo. Em seguida, voltaram para a etapa de Interlagos onde obtiveram a quinta colocação na classificação final, com participações ainda nas 500 Milhas de Londrina e nas 6 Horas de Curitiba, onde obtiveram a quarta colocação na categoria P3.
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Gear up Racing Engineering: DTR 01
Outro protótipo da nova geração, o DTR01 foi desenvolvido pela Gear up Racing em parceria com a equipe DTR Motorsports de Francesco Ventre e Eduardo Dieter. Tal como o Sigma, foi projetado por um grupo de engenheiros brasileiros, que fizeram parte do time de Fórmula SAE da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), e nasceu para substituir o MR18 da DTR. Partindo da mesma mecânica básica do antigo MR18 (motor Honda K20 + transeixo Xtrac), um novo chassi tubular foi construído, com aerodinâmica desenvolvida em CFD. A equipe fez sua estréia em competições nas 3 Horas de Santa Cruz do Sul de 2019, e mesmo enfrentando alguns problemas (normal para um projeto novo como esse), o DTR01 conseguiu como melhor volta um tempo de 1m14s918, muito próximo dos AJR e que seria suficiente para a sétima posição no grid de largada.