Protótipo FNM JK “Tanto-Faz”

No início dos anos 60 as montadoras, recém-instaladas no Brasil começaram a se envolver no automobilismo, como forma de promover o automóvel nacional. A princípio eram inscritos modelos como DKW Vemag, Simca Chambord, FNM JK e Willys Gordini. Mesmo com algumas vitórias das equipes de fábrica, as carreteras seguiam dominantes devido à elevada potência de seus motores V8 de origem estadunidense, normalmente competindo como “Turismo Força Livre”. Na tentativa de fazer frente às velozes carreteras, nasceu um dos primeiros (senão “O primeiro”) carro a ser designado como protótipo foi o Tanto-Faz, que participou apenas de uma prova nas Mil Milhas Brasileiras de 1961.

Largada 6ª Edição das Mil Milhas Brasileiras. Fonte: Blog das Mil Milhas [1].

A construção do carro teve início apenas 25 dias antes da prova, e envolveu os pilotos Aylton Varanda e Mário Olivetti, o construtor Renato Peixoto. Também participaram do projeto o engenheiro Hamilcar Baroni e o projetista Scavone, ambos funcionários da FNM ainda que não houvesse apoio oficial da fábrica à empreitada. Para finalizar o carro a tempo, os construtores trabalharam em revezamento praticamente 24 horas por dia na Oficina Peixoto em Petropólis.

Fonte: Arquivo pessoal José Augusto Varanda.

Partindo de um alguns esboços na parede da oficina e um JK normal, Renato Peixoto transformou o sedã italiano em um GT de dois lugares, reduzindo o peso em cerca de 300 kg no processo, principalmente com a redução do balanço traseiro do carro. Devido à falta de recursos e tempo, o entre-eixos foi mantido nos 2.720 mm originais, o que prejudicou o equilíbrio do protótipo.

De toda a forma, o carro foi pintado em amarelo com uma central faixa verde-oliva e partiu para Interlagos onde o visual inusitado cativou os fãs e rendeu a icônica alcunha de Tanto-Faz, já que era difícil discernir entre a dianteira e a traseira do carro na pista. Visto parado, a dianteira remete imediatamente aos Alfa Romeo com o cuore italiano ao centro, enquanto a traseira é definitivamente inusitada e o único elemento que pode ser reconhecido são as lanternas, emprestadas do Chevrolet Bel-Air 1958.

Durante a prova, o pequeno carro se mostrou um formidável competidor, não se intimidando com as possantes carreteras e conquistando a terceira colocação geral, atrás apenas da Carretera Chevrolet de Orlando Menegaz e Ítalo Bertão e do FNM JK de fábrica de Chico Landi e Christian Heins, o “Bino”.

Fonte: Blog das Mil Milhas [2].

Curiosamente, mesmo após o sucesso tendo em vista a ausência de preparação, o Tanto-Faz jamais retornou às pista de competição. A última menção ao carro vêm do jornal Correio da Manhã em 1964, onde os construtores apresentavam o protótipo como opção a modelos similares apresentados por Simca (Tempestade), DKW (Malzoni) e Willys (Interlagos). Segundo os construtores, o Tanto-Faz poderia tornar-se uma opção muito competitiva caso tivesse seu entre-eixos reduzidos em 22 cm, o que resolveria os problemas de equilíbrio e permitiria um teto mais baixo, recebesse uma carenagem de aço por alumínio e adotasse freios a disco.

Fonte: Arquivo pessoal José Augusto Varanda.

Infelizmente esses planos jamais se concretizaram, e desde então o Tanto-Faz tem paradeiro desconhecido. O último registro do carro é em roupagem para as ruas, o que pode significar que o protótipo ainda esteja por aí, armazenado ou esquecido em alguma coleção.

Agradecimentos

Deixamos nosso agradecimento especial a José Augusto Varanda, filho de Aylton Varanda que gentilmente cedeu grande parte das imagens que ilustram essa publicação.

Você também poderá se interessar por:

Berta LR Hollywood (1975)

O Berta Hollywood foi o protótipo mais avançado da Divisão 4, e marcou o canto do cisne da categoria em 1975.

PB01 (1994 – 2000)

O PB01 é um projeto do piloto e engenheiro Paulo Barreto, que transformou um chassi de Fórmula 2, a carroceria de um Willys Interlagos com inspiração em dois supercarros da década de 1990, naquele que seria o primeiro protótipo moderno construído no Rio Grande do Sul.

Fontes:

Protótipo “JK” poderia ser construído para competições. Correio da Manhã, 30 de abril de 1964. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=089842_07&Pesq=fnm%20tanto%20faz%20prot%C3%B3tipo&fbclid=IwAR11BIpX-EC-omTDXCYa9J67dy88yN-TPMS1OdfYJXKKqn_w6TP06Zb0N-Q&pagfis=51098.

Largada da Mil Milhas de 1961. Disponível em: http://blogdamilmilhas.blogspot.com/2018/01/largada-da-mil-milhas-de-1961.html.

Disputa no miolo de Interlagos em 1961. Disponível em: http://blogdamilmilhas.blogspot.com/2022/01/disputa-no-miolo-de-interlagos-em-1961.html.

AYLTON VARANDA E “O TANTO FAZ”. Disponível em: http://blogdojovino.blogspot.com/2012/05/aylton-varanda-e-o-tanto-faz.html.

TANTO FAZ. Disponível em: https://rodrigomattar.grandepremio.com.br/2014/02/tanto-faz/.

Imagens:

[1]: Largada da Mil Milhas de 1961. Disponível em: http://blogdamilmilhas.blogspot.com/2018/01/largada-da-mil-milhas-de-1961.html.

Disputa no miolo de Interlagos em 1961. Disponível em: http://blogdamilmilhas.blogspot.com/2022/01/disputa-no-miolo-de-interlagos-em-1961.html.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *