Tech Analysis: 1ª etapa do Gaúcho de Endurance 2024

Faltando poucos dias para a segunda etapa do Gaúcho de Endurance, que será disputada no Velopark, trazemos nossa análise do desempenho da categoria P2 e das evoluções dos protótipos na primeira etapa, disputada em Tarumã

Novidades da etapa:

A categoria P2 do Endurance Gaúcho pode ser dividida em três configurações diferentes de carro, conforme o tipo de construção:

  1. P2 “Homologados”, que são os modelos Sigma G5 P2 e AJR P2 conforme ficha de homologação, com motorização V8 ou 4 cilindros turbo
  2. P2 “Legacy aro 18”: protótipos abertos ou fechados, com motorização V8 ou 4 cilindros turbo;
  3. P2 “Legacy aro 13”: protótipos abertos com motorização 4 cilindros turbo;

Sigma P2 G5

A equipe Sigma não aplicou grandes novidades no seu protótipo, porém chegou a testar nos treinos livres uma configuração com os mesmos diveplanes da versão P1.

Como efetivamente o Sigma P2 não competiu com grandes mudanças em relação à 2023, o comparativo do seu desempenho serve de termômetro para a variação de condições da pista. Do comparativo das 30 melhores voltas, podemos perceber que em média a pista na etapa de abertura foi meio segundo mais lenta do que no encerramento da temporada 2024.

MCR 46:

Já para o MCR 46, a novidade foi a adoção de um sistema de paddle shift para o câmbio sequencial do modelo, porém sem alterações aerodinâmicas.

Infelizmente não foi possível avaliar a evolução de performance com a adoção das borboletas para troca de marcha pois na prova de 2023 o MCR #46 completou apenas 30 voltas, de forma que a amostra de voltas não seria significativa para efeito de comparação.

MCR 71

Já no MCR 71, as grandes evoluções foram na aerodinâmica, com a adoção de um novo pacote aerodinâmico. Já era percebido pela equipe que o desempenho do MCR era limitado por falta de pressão aerodinâmica na dianteira, e após um acidente que destruiu o bico antigo no carro na etapa de encerramento da temporada 2023 o time optou por desenvolver um novo pacote, de forma a fazer frente aos novos carros como o Sigma P2.

Diferentes configurações do MCR #71 ao longo dos anos.

Para isso, o protótipo passou por um escaneamento 3D, depois por todo o projeto do novo kit aerodinâmico que por fim levou a usinagem dos novos moldes de carenagem para posterior fabricação. O grande destaque do novo pacote é o bico, que representa a quinta iteração de bico diferente testada no MCR #71, que agora incorpora um aerofólio com dois elementos, e um suporte do tipo swan neck, lembrando de certa forma os “Twin tusks” da Williams FW26 de 2004.

Dessa forma, o novo pacote ficou pronto na véspera da prova, e no shakedown a equipe identificou problemas de arrefecimento no protótipo, além de dificuldades para encontrar o acerto ideal com o novo bico. Para manter o equilíbrio aerodinâmico, além do novo bico foram desenvolvidas uma nova tampa para o motor, para melhorar o fluxo aerodinâmico e uma nova asa traseira.

O comparativo de desempenho entre 2024 e 2023 mostra uma piora de cerca de 2,3 segundos na nova configuração onde, descontados os cerca de 0,5 segundo de piora de desempenho da pista nos dá uma piora de 1,8 segundo na melhor volta, que se repete nas demais condições do nosso diagrama, mesmo com o trabalho pesado de acerto realizado durante os treinos livres. Contudo, a nova configuração apresenta um grande potencial de evolução, pois permitirá maior flexibilidade nos acertos disponíveis.

MC Tubarão XII

Infelizmente o protótipo Tubarão XII sofreu um acidente durante os treinos livres, então não foi possível avaliar seu comportamento frente aos demais competidores. A única novidade que pôde ser vista foi a adoção de duas pequenas entradas de ar logo à frente do cockpit, provavelmente para ajudar a lidar com as altas temperaturas registradas em Tarumã durante o final de semana.

Metalmoro Vettore

Na categoria P4, é interessante observar a evolução do protótipo Vettore da Metalmoro. Para a temporada 2024, o pequeno protótipo trocou a motorização Chevrolet 1.4 por uma unidade Ford Duratec 2.0, um incremento de potência considerável que resultou em uma grande melhora no desempenho.

Como podemos perceber do comparativo abaixo, as mudanças resultaram em uma redução de 1,9 segundo no tempo de volta, que considerando a variação de 0,5 segundo da pista, resulta em cerca de 2,4 segundo de melhoria. Curiosamente, o desempenho médio (segundo e terceiro quartis), ficou muito próximo do registrado em 2023, talvez um sintoma dos problemas enfrentados pelo carro na prova de abertura.

Análise do classificatório da P2:

No classificatório, o MCR #46 mostrou sua excelente performance em voltas rápidas, conquistando a pole-position e sendo o único carro a baixar da marca de 1m02s.

Análise da corrida – categoria P2

Para avaliar o desempenho dos diversos carros na prova, escolhemos as 30 voltas mais rápidas registradas por cada protótipo.

Todos os protótipos apresentaram amplitudes de cerca de 2 segundos na amostra de tempos de volta, o que pode ser explicado devido aos problemas enfrentados pelos MCRs #46 e #71, o que além de piorar a amostra desses carros também fez com que Jindra Kraucher pudesse correr sem se preocupar em imprimir um ritmo mais forte, já que não haviam competidores lutando pela vitória.

Fonte: Gaúcho de Endurance 📷 Contribuição apreciada.

Avaliando o gráfico, podemos ver que o protótipo Sigma P2 registrou o melhor tempo de volta, além de ter o menor gap entre classificatório e prova (apenas 0,55%), com uma amplitude de 2 segundos.

Fonte: Gaúcho de Endurance 📷 Contribuição apreciada.

Já no caso do MCR #46, podemos ver que o gap entre classificação e prova foi maior, na casa de 2,8%, além de uma amplitude de amostra de aproximadamente 2,5 segundos, refletindo os problemas enfrentados.

Fonte: Gaúcho de Endurance 📷 Contribuição apreciada.

Por fim, para o MCR #71 o gap entre prova e classificatório foi intermediário, de 1,5%, enquanto a amplitude foi a maior da classe P2, abrangendo uma faixa de 3,4 segundos, devido principalmente aos diversos problemas enfrentados.

Agradecimentos

Deixamos um agradecimento especial ao amigo Dênis Adriano Machado do excelente Hora da velocidade, que esteve acompanhando a etapa de Tarumã e compartilhou diversas informações que estão aqui nesse publicação!

Sobre o método

Para analisar o ritmo de prova dos competidores, desenvolvemos um diagrama de caixa modificado, utilizando como referência as melhores voltas do melhor carro de cada fabricante. 

Para o meu método, optei por utilizar as 30 melhores voltas do melhor carro de cada modelo, seguindo a mesma lógica utilizada no BoP da categoria Hypercar do WEC. Contudo, enquanto no WEC são considerados os 60% de voltas mais rápidas (para contabilizar o efeito de diferentes estratégias de box e a degradação do carro durante a prova), no caso do Gaúcho de Endurance optei por uma quantidade de voltas inferior a um stint, pois as janelas de pit stop são pré-definidas e pode existir uma grande variação de desempenho entre os pilotos de um mesmo carro. De um lado prático, a quantidade de voltas foi limitada pois sua tabulação exige um trabalho manual de captura de dados, visto que atualmente encontram-se disponíveis apenas pelo Racehero que não permite que sejam exportados em forma de tabela.

O dados do gráfico são interpretados da seguinte forma:

  • Ponto verde inferior: representa a melhor volta da prova para um determinado carro ;
  • Linha verde tracejada:  representa os 25% de voltas mais rápidas da amostra (1º quartil);
  • Caixa central: representam os 50% de voltas centrais da amostra (2º e 3º quartis);
  • Linha central: tempo médio de volta considerando a amostra;
  • Linha vermelha tracejada: representa os 25% de voltas mais lentas da amostra (4º quartil);
  • Ponto vermelho superior: pior volta da amostra

Em linhas gerais, quanto menores as linhas verde e vermelha, menor a dispersão, ou seja, mais constante foi o carro. Da mesma forma, quanto menor a caixa central, mais constante foi o desempenho. Uma limitação do tamanho e tipo de amostra escolhida é que a distribuição não apresenta um comportamento “normal” nas duas direções, de forma que o  primeiro quartil (linha verde, 25% melhores voltas) tende a aparecer alongado em relação ao quarto quartil (linha vermelha, 25%  piores voltas).

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