Nos últimos dias surgiu na Internet a imagem do protótipo desenvolvido pela Tarso Marques Concept, empresa do piloto homônimo com que tem passagens por F1, Indy e Stock Car, entre outras categorias. Hoje vamos nos aprofundar sobre o que já se sabe desse projeto ainda envolto em mistérios.
Contexto
Segundo o próprio Tarso Marques, esse protótipo é parte de um projeto maior, que visa desenvolver o primeiro hipercarro brasileiro, e servirá de base para testar e validar conceitos para o carro de rua.
Quanto ao carro de competição, algumas vistas 3D do projeto foram divulgadas pelo piloto em suas redes sociais que, mesmo mostrando o carro parcialmente, deixam claro que o design é completamente único em relação ao que existe nas pistas brasileiras e mundiais.
Mas diferente de outros projetos brasileiros que jamais saem do papel, o carro encontra-se em uma fase muito mais avançada do que apenas o modelo 3D, com o primeiro shakedown realizado por volta do início de março no Autódromo Internacional de Curitiba.
E foi desse teste que surgiu a imagem que atualmente circula a Internet, que também deu origem ao apelido de batmóvel para o carro, pela cor preta e até mesmo pelo estilo baixo e largo, que para muitas pessoas lembra muito o veículo do homem morcego.
Dúvidas e especulações
Junto com as notícias veio uma quantidade igual de especulações e dúvidas:
- O carro é um monoposto de F1 ou Indy carenado? Não. Muito diferente disso, o projeto do TMC M1 aproveita a liberdade técnica do regulamento da Endurance Brasil para colocar o piloto em uma posição típica de um monoposto, com o piloto no centro do carro e ao que tudo indica em posição de pilotagem muito próxima à um Fórmula 1, com o piloto praticamente “deitado”, resultando em um carro mais baixo e de perfil mais esguio. O chassi, apesar de não ser de um F1, é sim um monocoque de fibra de carbono, o primeiro fabricado no Brasil, com projeto próprio da TMC e construído pela RALLC, empresa brasileira especializada em usinagem e fabricação de moldes e componentes em materiais compósitos, e que fornece componentes para, entre outros, a Embraer.
- Ele irá competir na categoria P2? Na P1? Segundo Tarso Marques, o M1 foi projetado para competir na categoria P2 da Endurance Brasil. Contudo, a organização da categoria classificou o carro na categoria P1, competindo contra AJR, Ginetta G57 e Sigma. Isso se deve ao fato de que a P2, ainda que isso não esteja escrito no regulamento 2019, é destinada à carros de fabricação mais antiga, que não atingiam o mesmo nível de performance dos protótipos mais recentes.
- O carro está fora do regulamento da Endurance Brasil? Não. Analisando o regulamento da Endurance Brasil, seja na P1 ou na P2, não há menção à praticamente nenhuma limitação, exceto por peso e capacidade do tanque, dependendo do tipo de motor. Alguns especulavam que por ter chassi em fibra de carbono o carro estaria fora do regulamento, porém essa regra só existiu até 2018, e hoje já são permitidos na P1 modelos LMP3 e os Ginetta G57 / G58, que utilizam o mesmo tipo de construção do chassi
O que já se sabe
Passadas as polêmicas, vamos ao que se sabe do protótipo:
Chassi: como já mencionado, é um monocoque em fibra de carbono, de fabricação brasileira, e com projeto aerodinâmico desenvolvido em CFD. Além disso, o carro é equipado com freios de carbono, pneus Pirelli e tem peso de 940 kg.
Um outro ponto interessante do carro é o volante, que também está sendo desenvolvido no Brasil e representa uma evolução em relação aos protótipos atuais, pois agrega painel e todos os controles, similar os volantes dos carros de F1.
Além do design, as imagens permitem ver alguns sistemas que estarão presentes no carro:
- DRS: indica que o carro terá um sistema de asa móvel, similar ao já empregado nos AJR e Sigma P1;
- ABS;
- TC (controle de tração);
- SW;
- MAP, provavelmente mapa do motor;
- Boost: ajuste da pressão de abertura da waste gate;
O item que mais chama a atenção, entretanto, são os botões F. Flap e R.Flap, de controle giratório e que parecem permitir algum tipo de ajuste aerodinâmico on-board.
Motor: será utilizado um motor V6 turbo. Partindo para a especulaçao, tudo indica de origem Chevrolet. Considerando que a Sprint Race, categoria liderada por Thiago Marques, utiliza motores baseados no V6 da Captiva, não seria surpresa que o TMC M1 utilize um motor similar.
Transmissão: Hewland sequencial de 6 marchas.
Análise aerodinâmica
Com poucas imagens disponíveis, não é possível promover uma análise detalhada do “batmóvel”. Ainda assim, algumas características chave do carro já podem ser percebidas. Inicialmente, chama a atenção o fato do protótipo não ter portas, utilizando um canopy (1), tal qual um caça. Na dianteira, destaca-se o bico elevado (2) e a ausência dos canards (3) que aparecem em diversas imagens 3D divulgadas. Como o carro fez apenas um shakedown, é possível que esses componentes não tivessem sido instalados, ou ainda estivessem em fase de construção. Ainda na região das rodas dianteiras é possível ver as saídas para ventilação da caixa de roda (4). Destacam-se também os elementos aerodinâmicos que unem o para-lamas ao bico do carro.
Passando a lateral, o TMC M1 têm a onipresente barbatana dorsal (5) e um conjunto de “guelras” (6) para ventilar o ar da região do motor e radiadores. As entradas de ar para os freios traseiros (7), ficam posicionadas à frente das rodas traseiras, solução também comum nos protótipos atuais. A asa traseira (8) parece não ter suportes centrais, sendo suportada lateralmente pelos endplates e centralmente pela barbatana dorsal (a imagem não é clara, porém parece não haver nenhum suporte central, o que explicaria a espessura considerável da barbatana). Ainda sobre a asa traseira, no carro que foi para a pista ela possui uma corda bem longa, com um elemento único.
Aqui vamos a uma das novidades, uma segunda foto do TMC M1 durante o mesmo treino. Nessa imagem é possível ter uma visão melhor da lateral do carro, onde um item comum está faltando: os retrovisores externos. Pode ser que esses componentes serão instalados na versão final, porém nenhuma das projeções 3D apresenta esses componentes, o que indica que o protótipo poderá ter um sistema de câmeras substituindo os retrovisores tradicionais.
Utilizando como referência o Metalmoro JLM AJR, principal concorrente do TMC M1, podemos ter uma melhor noção de outra característica desse carro: o carro é muito baixo, e o piloto vai praticamente deitado, como é um monoposto da F1 ou da Indy.
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