DTR 01

Mais recente adição à categoria P1 do Endurance Brasil, o protótipo DTR01 foi comissionado a pedido dos pilotos Francesco Ventre e Eduardo Dieter. Se você acompanha a categoria a mais tempo, deve se lembrar que a dupla competia na Endurance com um protótipo MR18, na época um dos mais rápidos que disputavam o certame nacional. Com motor Honda K20 Turbo, o protótipo #110 utilizava soluções diferentes dos demais MR18, como a suspensão, asa traseira e freios de carbono, desenvolvidas pelo time técnico da equipe.

Fonte: Endurance Brasil [1].

Porém, a chegada de carros como o Metalmoro AJR e o Porsche 911 GT3R foram os sinais de que algo além deveria ser feito, caso a equipe desejasse manter a competitividade. Um acidente sofrido em Tarumã na temporada de 2017 foi o catalizador para a mudança: ao invés de reconstruir o MR18, o powertrain do carro (motor Honda + transeixo Xtrac P1152 UPDATE 10/07/2021: conforme informação recebida pela redação, trata-se na verdade de um conjunto motor Honda + transeixo Hewland TMT) foram utilizados como base para um novo carro, desenvolvido pela Gear Up Racing Engineering, empresa composta por um grupo de engenheiros egressos da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), com experiência nas competições de Fórmula SAE. Desse projeto nasceu o DTR01, um dos projetos mais avançados atualmente nas pistas brasileiras.

Fonte: Gear Up Racing [2].

Parte 1 – Aerodinâmica

Ao observar o DTR01, a primeira impressão é de olhar um protótipo de Le Mans. Isso porque o modelo segue a mesma filosofia de design dos protótipos LMP1 do WEC, como Porsche 919, Audi R18 e Toyota TS050.

Porsche 919 Hybrid. Fonte: Wikipedia [3].

Mas além dessa primeira impressão, um olhar mais criterioso deixa claro que o trabalho da Gear Up Racing não se limitou a imitar os protótipos estrangeiros, ao invés disso buscando inspiração em carros de desempenho comprovado ao mesmo tempo que investiram em soluções customizadas para aproveitar a liberdade técnica do regulamento da Endurance Brasil.

Adaptado de: Gear Up Racing [2].

Na dianteira do carro, o primeiro destaque é o bico elevado (1), solução adotada em carros como o Audi R18 2016 e Ginetta G60, que permite direcionar mais ar para os túneis do assoalho (voltaremos a eles logo abaixo). Além disso, o DTR utiliza dois grandes dive planes (2) abaixo dos faróis, inclusive com hastes de suporte presas ao splitter dianteiro. Falando do splitter, nessa peça podemos ver um detalhe interessante do carro: na lateral do splitter existe um footplate (3), uma região por onde o ar pode “rolar”, criando um vórtice que acompanha a lateral do carro. Esse elemento pode ter sido introduzido para ajudar a reduzir o arrasto aerodinâmico do carro, mas também pode ter o efeito de “selar” o assoalho do carro, maximizando o downforce gerado por efeito Venturi.

Adaptado de: Gear Up Racing [2].

Passando a lateral do DTR, as tomadas de ar para radiador/intercooler ficam bem próximas ao cockpit (não visíveis nessa imagem). Na parte traseira, estão os dutos de freio incorporados a caixa de roda traseira (4) e uma entrada de ar inferior (5), que leva ar para a região interna da carenagem. Sem imagens mais detalhadas é difícil especular sobre a função dessa entrada, porém é possível que essa entrada alimente ar sobre o difusor, para aumentar sua eficiência. Sobre as rodas traseiras existem ainda dois strakes (6) para evitar migração do fluxo de ar para fora da carenagem e direcioná-lo para a asa traseira. No centro está a barbatana dorsal (7), com um design similar os protótipos de Le Mans. A asa traseira (8), tem dois elementos e fica montada em posição bem baixa, suportada lateralmente pelos endplates (9) e no centro por dois suportes estilo swan neck (10).

Adaptado de: Gear Up Racing [2].

Na traseira, o destaque é para o difusor (11), um dos maiores entre os carros da P1.

Adaptado de: Gear Up Racing [2].

O difusor é alimentado por ar oriundo da dianteira do veículo, que contorna o cockpit pelos dois lados (linha amarela na imagem abaixo). A garganta do difusor fica localizada aproximadamente no centro do carro (14), uma posição muito mais avançada do que a permitida pela maioria das categorias. Ainda nessa vista, é possível ver as aberturas de ventilação do ar das rodas dianteiras (12) e traseiras (13).

Adaptado de: Gear Up Racing [2].

Chassis e Powertrain

O chassi é de construção tubular convencional, com a carenagem esculpida em fibra de vidro e carbono. Na mecânica, a suspensão é do tipo push rod tanto na dianteira quanto na traseira, utilizando freios de carbono nas quatro rodas

Para mover o DTR01, o powertrain escolhido é o mesmo que já vinha sendo utilizado no MR18 #110, um motor Honda K20 Turbo preparado pela mecânica OverBoost, que entre outros segredos, utiliza um virabrequim de projeto próprio da OverBoost. A transmissão utilizada é uma Xtrac P1152, a mesma dos protótipos LMP3. UPDATE 10/07/2021: de acordo com uma fonte confiável, o DTR01 utiliza um transeixo Hewland TMT. Além disso, diversos componentes como sistemas de direção e elementos de suspensão seriam um carry-over do MR18 da equipe.

Histórico em competições

O DTR01 estreou na temporada 2019 do Endurance Brasil, participando apenas das 3 Horas de Santa Cruz do Sul, terceira etapa do campeonato. Durante os treinos livres o ritmo do carro impressionou, obtendo um tempo de 1m14s918, que o teria colocado na sétima posição do grid de largada, porém um problema durante os treinos impediu que a equipe participasse do treino classificatório. Dá para arriscar dizer que, com pneus novos e set up de classificação, o protótipo teria virado na casa de 1m12s, lutando pela pole com os protótipos AJR #88 e # 65.

A equipe trabalhou duro durante a noite para alinhar o carro no grid, porém um outro problema forçou a equipe a tomar a decisão de recolher o carro para evitar um dano maior ao equipamento. Desde então, o modelo continua participando de sessões de treinos livres, porém não voltou a participar de nenhuma prova oficial.

[EDIT 26/06/2021]: Em 2020 a DTR Motorsport voltou ao grid do Endurance Brasil para disputar as 4 Horas do Velopark, válida como terceira etapa do campeonato. Infelizmente uma falha nos freios ainda nos treinos livres da quinta-feira levou à um acidente com danos consideráveis, impossibilitando a equipe de participar das sessões oficiais e da prova.

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Imagens:

[1]: Endurance Brasil. Disponível em: https://www.facebook.com/endurancebrasil/photos/?ref=page_internal

[2]: Gear Up Racing. Disponível em: https://www.facebook.com/gearupracing

[3]: Porsche 919 Hybrid. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Porsche_919_Hybrid

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