Pikes Peak International Hill Climb 2022

No dia 26 de junho será disputada a centésima edição do Pikes Peak International Hill Climb, a segunda prova mais antiga ainda em disputa no automobilismo americano, atrás apenas das 500 Milhas de Indianápolis. Desde 1916 corredores disputam a prova, que tem formato de Hill Climb ou Subida de Montanha por um trajeto de 12,42 milhas (19,99 quilômetros), com 156 curvas e uma diferença de altitude entre as linhas de partida e chegada de cerca de 2.860 metros. Para dar uma idéia do que essa elevação significa, seria como ter uma corrida que se inicia em Santos ao nível do mar e termina no Pico da Bandeira, um dos pontos mais elevados do território brasileiro!

Durante a maior parte da história a prova foi disputada em piso de cascalho, porém desde 2011 o trajeto foi totalmente asfaltado após a constatação de que a erosão do cascalho da rodovia causava prejuízos ambientais à vegetação e às fontes d’água. 

Engana-se porém, quem pensa que o desafio seja menor: com o asfalto, a prova se tornou muito mais veloz e, enquanto no caso de uma eventualidade o cascalho ajudava a reduzir a velocidade dos carros, agora qualquer falha é uma viagem potencial de encontro a um desfiladeiro, já que a maior parte do trajeto sequer conta com guard-rails. Para complicar, o ciclo climático da montanha é extremamente agressivo ao asfalto, pois com as chuvas a água se infiltra sob o solo, congela e acaba criando degraus no calçamento que podem chegar aos 6 centímetros. Essa combinação pode levar a acidentes bem sérios, tanto que os requisitos para de segurança e especialmente para o santantonio dos carros que competem em Pikes Peak estão entre os mais rígidos do automobilismo mundial.

Categorias

Quanto à competição, a prova se divide em seis classes:

  • Exhibition: categoria estabelecida para que fabricantes e preparadores possam demonstrar as capacidades carros conceito e pré-produção. Atualmente é a única categoria que permite a inscrição de modelos movidos a hidrogênio;
  • Pikes Peak Open: categoria para carros baseados em modelos de produção em série, porém permitindo modificações na motorização, suspensão, freios e a adição de aerofólios e outros apêndices aerodinâmicos;
  • Porsche Pikes Peak Trophy by Yokohama: categoria reservada para modelos Porsche Cayman GT4 Clubsport, equipados com pneus Yokohama;
  • Time Attack 1: categoria para carros baseados em modelos de produção, respeitando as configurações originais de motor, tração (4×2 ou 4×4) e com limitações a superfície total dos elementos aerodinâmicos (601.289 mm²);
  • Open Wheel: categoria mais tradicional de Pikes Peak, em disputa desde 1916, a Open Wheel permite a participação de monopostos com rodas descobertas, 4×2 ou 4×4 e com designs que podem variar de buggys até Indycars. O principal requisito é o de atender a seguinte relação peso/deslocamento volumétrico:
  • Unlimited: categoria mais veloz de Pikes Peak, onde os competidores devem atender apenas aos requisitos de segurança previstos no regulamento.

As características extremamente travadas do traçado e a liberdade do regulamento levam e permitem que os engenheiros possam desenvolver alguns dos pacotes aerodinâmicos mais agressivos vistos em qualquer competição do mundo, como o lendário Escudo Pikes Peak do Gran Turismo 2.

A grande elevação do traçado também leva ao uso extensivo de motores sobrealimentados para compensar, ainda que parcialmente, a menor densidade do ar em maiores altitudes. Essa mesma característica, junto à curta duração da prova, leva Pikes Peak a ser (dentro do meu conhecimento) a única prova onde um carro completamente elétrico consegue competir em condições de igualdade contra modelos de combustão interna, tanto que o recorde atual (7m57s148) foi estabelecido pelo impressionante protótipo elétrico ID.R da Volkswagen.

Em quem ficar de olho

Por se tratar da centésima edição, a lista de competidores é possivelmente a mais competitiva dos últimos anos com 80 pilotos de 12 diferentes nacionalidades.

A disputa pelo recorde de modelos movidos à diesel

Uma das disputas mais interessantes em 2022 será pelo recorde para carros movidos à diesel. O primeiro competidor

O recorde atual pertence a Scott Birdsall e a picape Old Smokey, uma Ford F1 1949 comprada do Craiglist e equipada com um motor Cummins 6.7 de 1.400 HP, com a marca de 11m24s605.

Ford F1 “Old Smokey”. Fonte: Chuckles Garage. 📸 Jimmy Ban

Neste ano o americano retorna para defender o próprio recorde, porém dessa vez com algo ainda mais radical: um protótipo Superlite LMP (uma réplica fiel dos Cadillac LMP1 de 2000), equipado com um motor EcoDiesel V6 de cerca de 1.000 HP e um transeixo sequencial 6XD. Isso não significa que a picape Old Smokey não terá oportunidade de defender o próprio recorde, já que ela estará presente, porém pilotada agora por Aaron Kaufman (ex-Gas Monkey Garage).

Superlite LM-P. Fonte: Chuckles Garage.

Outro competidor lutando pelo recorde Diesel será o francês Gregoire Blachon, que está preparando um Radical SR3 com motorização VW TDi de aproximadamente 500 HP e uma transmissão Porsche PDK de 7 marchas.

Radical SR3 equipado com o motor TDi. Fonte: Boxeer Diesel Motorsports.

O último (e mais inesperado) competidor pelo recorde Diesel é o Nissan GTR R35 da LYFE Motorsport, que será equipado com um motor Power Stroke 6.0 V8 e foi apelidado “Frank 6.0”. O carro ainda está em fase construção, mas deve contar com um pacote aerodinâmico similar ao do outro GTR da equipe, que conta com um powertrain convencional e também já competiu em Pikes Peak.

Nissan GT-R “Sidney”. Fonte: LYFE Motorsport.

A disputa sem limites pela vitória geral

A luta pela vitória geral promete ser uma das mais interessantes, pois além dos fortes candidatos que estarão lutando pelo recorde dos carros à diesel, estarão presentes diversos projetos extremos que podem até mesmo desafiar o recorde na geral se as condições climáticas forem favoráveis.

O favorito para a prova é o inglês Robin Shute, bicampeão e atual vencedor da prova que retornará com seu protótipo Wolf GB08 TSC-FS, evolução do TSC-LT de 2021. Baseado no chassi de um Wolf GB08, o carro é equipado com um motor Honda K20 turbo de aproximadamente 550 HP e cerca de 570 kg, e seu kit aerodinâmico consegue produzir 1475 kgf de downforce à 200 km/h.

Wolf GB08 TSC-LT. Fonte: Robin Shute Racing.

Outro favorito é Cody Loveland e seu protótipo Enviate Hypercar Evo. De construção tubular, com aerodinâmica desenvolvida por Sébastien Lamour (aerodinamicista da Alfa Romeo F1), equipado com um motor Stage 5 7.0 V8 da Supercar System, baseado na arquitetura Chevrolet LS porém com bloco e cabeçotes billet com potência superior aos 1.000 HP na configuração Pikes Peak e acoplado a um transeixo Sadev sequencial de 6 velocidades. Em 2021 o carro ficou pronto apenas na semana da prova, e com pouca distância percorrida em testes não é surpresa que falhas tenham ocorrido no dia da prova, porém Cody tem trabalhado para corrigir as falhas com um robusto programa de testes previsto para se iniciar em breve, novamente com o ex-Stig Paul Gerrard ao volante.

Enviate Hypercar Evo. Fonte: Haltech.

Outro projeto interessante é o Riley/Ave AR-2 LMP3 de Don Wickstrum, carinhosamente apelidado “Gianna”, que também competiu em 2021 e ficou com a 11ª posição geral. Com mais tempo para testar e se adaptar ao carro, o “Fastest Pastor” é candidato a uma boa posição na tabela de classificação

Riley/Ave AR2 LMP3 “Gianna”. Fonte: Rockit West Motorsports Media & Design.

Uma estréia interessante será a do americano Henry Hill, que irá estrear na prova disputando a categoria Unlimited à bordo de um Wolf GB08 F1 Extreme, um monoposto/protótipo equipado com o mesmo motor Ford V8 de 650 HP do GB08 Tornado e aerodinâmica ainda mais agressiva, que atualmente é elegível para competições de hill climb e para o MAXX Formula italiano, onde compete na mesma categoria que monopostos da GP2 e IndyCar.

Wolf GB08 F1 Extreme. Fonte: Wolf Racing Cars.

Falando em Indycars, JR Hildebrand aparece novamente na lista de inscritos com um Dallara IR18 Evo, modelo utilizado atualmente na categoria norte-americana. Após sua entrada em 2021 não ter se confirmado, o piloto veio as redes sociais para informar que dada a complexidade para colocar o programa em prático ele seria adiado para 2022. Caso o programa se confirme, Hildebrand será um forte candidato à vitória na categoria Open Wheel e na geral.

Dallara IR18 Evo. Fonte: Speedsport Magazine.

O retorno do rei

A grande novidade da lista de inscritos, entretanto, é a presença de um dos maiores vencedores de Pikes Peak: o neozelandês Rod Millen estará de volta ao Colorado com sua icônica Tacoma com a qual travou acirradas disputas nos anos 90 contra Nobuhiro “Monster” Tajima e o igualmente lendário Escudo Pikes Peak. Com um motor 2.1 turbo de cerca de 1.000 HP, derivado dos Toyota que competiam em Daytona nos anos 90 e aerodinâmica avançada até para os padrões de hoje. Será interessante ver como o carro, que foi concebido para competir no cascalho, irá se comportar com o trajeto pavimentado presente atualmente.

Toyota Tacoma Pikes Peak. Fonte: Favcars.

Nas próximas semanas traremos novidades e histórias sobre a tradicional prova, então fiquem ligados nas nossas redes sociais.

Lista de inscritos

Regulamento técnico

Resultados das edições passadas

Guia da prova

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